1. Apresentação
Esta proposta inicial
de trabalho foi apresentada ao curador do Museu da Amazônia Prof. Ennio Candotti em 23 dezembro de 2013, e foi pensada para ser elaborada mais detalhadamente enquanto plano de ação para o
Museu da Amazônia, pois implica no enraizamento do projeto nas instâncias mais
concretas do cotidiano das comunidades parceiras para sua realização. Por não ter sido considerada viável, naquele momento pelo curador do MUSA, transformo a proposta em um debate que considero inadiável para o sucesso das ações institucionais nos tempos contemporâneos, e trato a proposta como um modelo reflexivo para as novas condições sociais que se impõem no cotidiano das instituições de ensino, pesquisa e extensão no Brasil.
A proposta apresentada online para o Museu da Amazônia, mais especialmente no Projeto Conceitual do Museu da Amazônia publicado no sítio do MUSA, “Notas sobre o Museu da Amazônia” (Ennio Candotti, Laurianne Franco e Mariana Ferraz), apresenta em seus argumentos o projeto do MUSA em diálogo com paradigmas contemporâneos emergentes que participam da noção de Museu de Território, e propõem a inserção das instituições públicas no cotidiano das populações, e vice-versa, o que evidencia que os interesses das populações são, hoje, cada vez mais determinantes para as ações institucionais em suas dimensões mais cotidianas.
Os novos contextos sociológicos, emergentes dos movimentos sociais contemporâneos, ininterruptamente tem pressionado as administrações públicas no Brasil e no mundo para cederem espaço à presença e participação das populações nas gestões de projetos e ações institucionais, cobrando cada vez mais a aproximação das instituições no cotidiano da vida social. É a presença destes novos contextos que apresento como justificativa para a elaboração e identificação de projetos que apresentem estratégias eficazes, a partir das quais a presença das instituições nos diferentes grupos sociais, mais especialmente aqui, dos grupos sociais amazônicos, define a continuidade das instituições públicas brasileiras, mais especialmente aqui as instituições voltadas à pesquisa e ao conhecimento sobre a Amazônia.
É nesse sentido, que aponto para o MUSA esta proposta, ou seja, a partir da necessidade contemporânea de respondermos institucionalmente às demandas sociais emergentes. Trata-se, portanto, de um esforço por indicar caminho para diálogos entre as populações e as instituições públicas, leis, projetos e ações institucionais, o que tem por propósito fundamental o fortalecimento das parcerias entre instituições e grupos sociais.
Esta proposta volta-se, portanto, para um projeto institucional que assume o diálogo com as demandas sociais emergentes como fundamental para a continuidade das instituições públicas, hoje, no Brasil, fundamento principal desta proposta de ação a ser desenvolvida pelo Museu da Amazônia. Para tanto, faço emergir as interdependências entre produção de conhecimento científico e produção de conhecimento tradicional como partes indissociáveis das redes de relações que sustentam os espaços onde o MUSA, enquanto Museu de Território, pretende se estabelecer.
Dessas interdependências visualizamos a orientação dessa proposta de um Museu de Território da Amazônia, em sugestões para ações e parcerias a partir da emergência de estratégias que respondam às necessidades e interesses das populações, amazônicas e brasileiras, sobre seus territórios, e simultaneamente responda às necessidades e interesses do MUSA enquanto projeto vinculado ao Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia.
Ao final, apresento a orientação política que determina as condições para a realização da proposta, ou seja, as implicações dos interesses dos grupos sociais amazônicos diversos enquanto resposta do MUSA e do INPA às expectativas de diálogo entre as inteligências científicas e as inteligências tradicionais e locais.
2.
Uma
Rede de Museus do Território da Amazônia
Conforme
está apresentado no “Projeto Conceitual do MUSA”, disponível online no sítio do
museu, elaborar um plano de trabalho para o Museu da Amazônia implica em
compreender o que é um Museu de Território. E, coerente com a realidade
amazônica, o projeto conceitual não só indica que o MUSA é um Museu de
Território[i], mas também que abrange a
incursão do museu nos espaços amazônicos a partir de uma "Rede de Museus”.
A proposta tem, portanto, como eixo central a noção de um Museu de Território da Amazônia, o que participa de uma noção atual de museu “descentralizado e polinucleado, que salvaguarde patrimonial e desenvolvimento sustentado local” (Daniel Calado Café, 2007[ii]); que fundamenta outros projetos de museus de território no Brasil e no Mundo, como é o caso do Museu de Favela, MUF, cujo acervo se encontra a céu aberto, entre as casas e becos estreitos das favelas e os horizontes abertos para além mar das praias do Rio de Janeiro, o que pode ser reconhecido em percursos distribuídos nas comunidades de Pavão, Pavãozinho e Canta Galo na cidade do Rio de Janeiro, conforme apresenta Camila Moraes (UNIRIO, 2010); e pode ser visto no vídeo: http://www.youtube.com/watch?v=LHv1gLbdeMw.
Assim sendo, pensar uma "Rede de Museus" que compreenda um Museu de Território da Amazônia é um projeto ambicioso e necessário, desde que responda aos interesses dos grupos sociais da região, e, simultaneamente, responda aos interesses do MUSA, considerando que essa busca por respostas simultâneas é verificável nas diferentes propostas de Museu de Território, que se multiplicam em nosso país e no exterior. Portanto, uma "Rede de Museus" que componha um Museu de Território da Amazônia está implicada em ações que respondam aos interesses dos grupos sociais que vivem na Amazônia, o que significa assumir institucionalmente a descentralização de ações a partir do diálogo permanente com as referências locais para cada ponto de uma rede de um Museu de Território.
Entendo que na medida em que as inteligências, interesses e sensibilidades das populações que vivem na Amazônia sejam reconhecidas e estabeleçam relações de reciprocidade numa "Rede de Museus", estamos contribuindo para o fortalecimento dos grupos locais na difusão de conhecimentos sobre a Amazônia e seus povos, no estimulo à produção alternativas viáveis que promovam economias sustentáveis e o fortalecimento das comunidades e grupos sociais associados à rede na participação das políticas públicas mais abrangentes para um Museu da Amazônia.
Em outras palavras, uma Rede de Museus no Território da Amazônia apresenta-se como espaço institucional capaz de abrigar referências fundamentais para a compreensão do macrossistema social amazônico, assim como, para a compreensão dos microssistemas presentes na trama das fibras de palha que compõem os cestos indígenas; na trama das trilhas escolhidas pelas/os caboclas/os, caminhos para a identificação, beneficiamento, cultivo e extração sustentável de recursos da floresta; assim como, nos interesses químicos sobre as partículas anestésicas e microscópicas da saliva do simulídeo transmissor de filárias responsáveis por epidemias ainda presentes na região.
Assim sendo, a noção de Museu de Território da Amazônia apresenta-se capaz de aproveitar a implicação das ciências físicas e naturais enquanto produtoras de relações sociais, implicação esta, comumente tomada como fator de prejuízo para os interesses das pesquisas, e aqui apresentada, pelo contrário, como fonte de estratégias capazes de potencializar resultados em pesquisas. Em outras palavras, hoje, precisamos fazer emergir da dependência das instituições voltadas às pesquisas em relação às populações, que habitam os espaços geográficos e ambientais que sediam as investigações, a continuidade dessas instituições, como é o caso do INPA. Esta questão indica, portanto, que, a garantia da vida institucional aparece hoje proporcional à capacidade das instituições de pesquisa estabelecerem parcerias com as populações que vivem nos espaços em que são desenvolvidas as pesquisas.
A proposta tem, portanto, como eixo central a noção de um Museu de Território da Amazônia, o que participa de uma noção atual de museu “descentralizado e polinucleado, que salvaguarde patrimonial e desenvolvimento sustentado local” (Daniel Calado Café, 2007[ii]); que fundamenta outros projetos de museus de território no Brasil e no Mundo, como é o caso do Museu de Favela, MUF, cujo acervo se encontra a céu aberto, entre as casas e becos estreitos das favelas e os horizontes abertos para além mar das praias do Rio de Janeiro, o que pode ser reconhecido em percursos distribuídos nas comunidades de Pavão, Pavãozinho e Canta Galo na cidade do Rio de Janeiro, conforme apresenta Camila Moraes (UNIRIO, 2010); e pode ser visto no vídeo: http://www.youtube.com/watch?v=LHv1gLbdeMw.
Assim sendo, pensar uma "Rede de Museus" que compreenda um Museu de Território da Amazônia é um projeto ambicioso e necessário, desde que responda aos interesses dos grupos sociais da região, e, simultaneamente, responda aos interesses do MUSA, considerando que essa busca por respostas simultâneas é verificável nas diferentes propostas de Museu de Território, que se multiplicam em nosso país e no exterior. Portanto, uma "Rede de Museus" que componha um Museu de Território da Amazônia está implicada em ações que respondam aos interesses dos grupos sociais que vivem na Amazônia, o que significa assumir institucionalmente a descentralização de ações a partir do diálogo permanente com as referências locais para cada ponto de uma rede de um Museu de Território.
Entendo que na medida em que as inteligências, interesses e sensibilidades das populações que vivem na Amazônia sejam reconhecidas e estabeleçam relações de reciprocidade numa "Rede de Museus", estamos contribuindo para o fortalecimento dos grupos locais na difusão de conhecimentos sobre a Amazônia e seus povos, no estimulo à produção alternativas viáveis que promovam economias sustentáveis e o fortalecimento das comunidades e grupos sociais associados à rede na participação das políticas públicas mais abrangentes para um Museu da Amazônia.
Em outras palavras, uma Rede de Museus no Território da Amazônia apresenta-se como espaço institucional capaz de abrigar referências fundamentais para a compreensão do macrossistema social amazônico, assim como, para a compreensão dos microssistemas presentes na trama das fibras de palha que compõem os cestos indígenas; na trama das trilhas escolhidas pelas/os caboclas/os, caminhos para a identificação, beneficiamento, cultivo e extração sustentável de recursos da floresta; assim como, nos interesses químicos sobre as partículas anestésicas e microscópicas da saliva do simulídeo transmissor de filárias responsáveis por epidemias ainda presentes na região.
Assim sendo, a noção de Museu de Território da Amazônia apresenta-se capaz de aproveitar a implicação das ciências físicas e naturais enquanto produtoras de relações sociais, implicação esta, comumente tomada como fator de prejuízo para os interesses das pesquisas, e aqui apresentada, pelo contrário, como fonte de estratégias capazes de potencializar resultados em pesquisas. Em outras palavras, hoje, precisamos fazer emergir da dependência das instituições voltadas às pesquisas em relação às populações, que habitam os espaços geográficos e ambientais que sediam as investigações, a continuidade dessas instituições, como é o caso do INPA. Esta questão indica, portanto, que, a garantia da vida institucional aparece hoje proporcional à capacidade das instituições de pesquisa estabelecerem parcerias com as populações que vivem nos espaços em que são desenvolvidas as pesquisas.
3. Amazônia dos Povos
O
acesso à Amazônia a partir de um Museu de
Território da Amazônia, estabelecido em uma Rede de Museus, conforme
proposto, aparece como parte de um processo de territorialização, geográfica e institucional, que coloca em
evidência o mapeamento sócio ambiental. O mapeamento sócio ambiental possibilita não só a visualização dos
diálogos das pesquisas com as populações numa produção de conhecimento em parceria, mas também indica caminhos para parcerias entre os grupos sociais diretamente envolvidos no projeto, assim como, o acesso da população amazônida em geral a quem é a Amazônia Brasileira, e quais as pesquisas desenvolvidas junto aos diversos pontos da Rede de Museus, o que envolvem campos de estudos desde a arqueologia,
às ciências da saúde, aos estudos de espécies e ecossistemas amazônicos, às referências sociológicas mais abrangentes, e aos modos específicos de vida e organização social local, o que pode abranger as diferentes línguas, danças, artesanato, cosmologias, estratégias econômicas e políticas específicas das populações que vivem na região. Evidenciamos, assim, a visualização geográfica das comunidades-sede nos diferentes
pontos da rede do Museu de Território enquanto espaços físicos referenciais
para as pesquisas em diálogo pelos interiores amazônicos.
Se, por um lado, a ênfase está em visualizar a Rede de Museus em comunidades-sede; por outro, enfatizamos a presença da comunidade científica como parte da população amazônida, e propomos o reconhecimento da instituição de pesquisa através dos grupos humanos aos quais a Amazônia pertence, quer sejam estes grupos formados por indígenas, ribeirinhos, citadinos, seringueiros, quilombolas, castanheiros, e/ou cientistas. Portanto, um Museu de Território da Amazônia tem como eixo central a relação entre as acepções próprias às ciências humanas e sociais e às ciências físicas e biológicas como condição transdisciplinar de sua proposta conceitual, o que define a orientação deste projeto.
O processo de territorialização , geográfica e institucional, contemporânea[1] dos povos nos espaços de um Museu de Território, por uma Amazônia dos Povos, significa o mapeamento e identificação dos recursos naturais no território para a realização de atividades, palestras, pesquisas, rituais, publicações, exposições e eventos que exibam a relação entre “gente e natureza” (Mito Tukano, Gentil, 2000):
“o Musa deverá criar condições de observação ‘in situ’, de imersão, em áreas de floresta.” (Projeto conceitual do Musa).
Assim sendo, uma oficina de cestos indígenas, ou uma pesquisa sobre o ecossistema de várzea, devem contar com o mapeamento das relações sócio ambientais implicadas nos processos de produção de conhecimento; nos espaços sociais, políticos, econômicos, simbólicos, e/ou rituais, que competem a cada parte.
Esse projeto apresenta, portanto, a relação entre o espaço territorial e as populações que o habitam desde suas referências mais remotas; e de outro parte, propõe a emergência contemporânea da produção científica brasileira na Amazônia, do conhecimento sobre florestas, redes fluviais e ecossistemas diversos, desde o sentido de sua relação em espaços sociais locais. Essas diferentes dimensões da relação entre a Amazônia e os Povos aos quais a floresta pertence pretende compreender as diferentes esferas do processo de territorialização dos espaços físicos amazônicos, contribuindo para a emergência de novas possibilidades institucionais e de vida social, um modelo de produção de conhecimentos e sensibilidades capaz de integrar os diferentes campos dos saberes humanos e suas respectivas práticas.
Assim sendo, esta proposta necessariamente depende de um enraizamento também da comunidade científica enquanto produtora de conhecimento amazônico. Conjugar conhecimentos e sensibilidades de especialistas de diferentes campos de pesquisa e conhecimentos tradicionais apresenta cientistas que desenvolvem pesquisas na Amazônia enquanto grupos sociais amazônicos (Latour e Woolgar, “Vida de Laboratório”, 1997), e legitima a tradição científica na Amazônia a partir da ênfase de sua relação com as populações que tradicionalmente ocupam a Amazônia. Neste sentido, a perspectiva antropológica pode contribuir para compreendermos que “mateiro, ribeirinho, indígena e cientista”, somos parte de uma diversidade de grupos sociais que têm como eixo central a vida na floresta amazônica, e é essa identidade compartilhada que nos impulsiona à conjugação cotidiana de nossas inteligências e interesses.
Se, por um lado, a ênfase está em visualizar a Rede de Museus em comunidades-sede; por outro, enfatizamos a presença da comunidade científica como parte da população amazônida, e propomos o reconhecimento da instituição de pesquisa através dos grupos humanos aos quais a Amazônia pertence, quer sejam estes grupos formados por indígenas, ribeirinhos, citadinos, seringueiros, quilombolas, castanheiros, e/ou cientistas. Portanto, um Museu de Território da Amazônia tem como eixo central a relação entre as acepções próprias às ciências humanas e sociais e às ciências físicas e biológicas como condição transdisciplinar de sua proposta conceitual, o que define a orientação deste projeto.
O processo de territorialização , geográfica e institucional, contemporânea[1] dos povos nos espaços de um Museu de Território, por uma Amazônia dos Povos, significa o mapeamento e identificação dos recursos naturais no território para a realização de atividades, palestras, pesquisas, rituais, publicações, exposições e eventos que exibam a relação entre “gente e natureza” (Mito Tukano, Gentil, 2000):
“o Musa deverá criar condições de observação ‘in situ’, de imersão, em áreas de floresta.” (Projeto conceitual do Musa).
Assim sendo, uma oficina de cestos indígenas, ou uma pesquisa sobre o ecossistema de várzea, devem contar com o mapeamento das relações sócio ambientais implicadas nos processos de produção de conhecimento; nos espaços sociais, políticos, econômicos, simbólicos, e/ou rituais, que competem a cada parte.
Esse projeto apresenta, portanto, a relação entre o espaço territorial e as populações que o habitam desde suas referências mais remotas; e de outro parte, propõe a emergência contemporânea da produção científica brasileira na Amazônia, do conhecimento sobre florestas, redes fluviais e ecossistemas diversos, desde o sentido de sua relação em espaços sociais locais. Essas diferentes dimensões da relação entre a Amazônia e os Povos aos quais a floresta pertence pretende compreender as diferentes esferas do processo de territorialização dos espaços físicos amazônicos, contribuindo para a emergência de novas possibilidades institucionais e de vida social, um modelo de produção de conhecimentos e sensibilidades capaz de integrar os diferentes campos dos saberes humanos e suas respectivas práticas.
Assim sendo, esta proposta necessariamente depende de um enraizamento também da comunidade científica enquanto produtora de conhecimento amazônico. Conjugar conhecimentos e sensibilidades de especialistas de diferentes campos de pesquisa e conhecimentos tradicionais apresenta cientistas que desenvolvem pesquisas na Amazônia enquanto grupos sociais amazônicos (Latour e Woolgar, “Vida de Laboratório”, 1997), e legitima a tradição científica na Amazônia a partir da ênfase de sua relação com as populações que tradicionalmente ocupam a Amazônia. Neste sentido, a perspectiva antropológica pode contribuir para compreendermos que “mateiro, ribeirinho, indígena e cientista”, somos parte de uma diversidade de grupos sociais que têm como eixo central a vida na floresta amazônica, e é essa identidade compartilhada que nos impulsiona à conjugação cotidiana de nossas inteligências e interesses.
4. Definição da
Rede de Museus. Editais de convocação e produção continuada.
Assim sendo, os pontos-sede emergirão de comunidades e grupos sociais já existentes. As comunidades que sediam os pontos referenciais de uma Rede de Museu de Território da Amazônia, devem integrar espaços de pesquisa, ensino e extensão em conexões simultâneas entre os diversos pontos da Rede de Museus, promovendo a produção conjunta de conhecimento e as parcerias entre regiões e sub-regiões amazônidas.
As parcerias já estabelecidas entre o INPA, o MUSA e a população devem ser consideradas em sua continuidade como parte do projeto. E evidente neste projeto de museu que toda a produção de conhecimento resultante das atividades desenvolvidas pelo Museu de Território da Amazônia implicará na salvaguarda das propriedades intelectuais das populações tradicionais e científicas.
Consideração
final: contextos sociológicos contemporâneos
Esta proposta surge, por um lado, como parte de minha experiência como pesquisadora do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia; por outro lado, como parte de minha experiência nestes
últimos três anos nos movimentos sociais, no Brasil e no mundo.
Estes movimentos sociais passam a fazer parte do cotidiano das instituições na busca por respostas e diálogos com as queixas emergentes das populações, mais especialmente, a partir do trabalho desenvolvido por profissionais que dedicam seus esforços para produzir alternativas viáveis que respondam às situações de conflito presentes na insatisfação apresentada pela população brasileira e mundial durante as mobilizações. É por considerar inadiável nosso mergulho institucional a esses novos contextos sociológicos que apresento minha posição enquanto pesquisadora voltada ao estudo das relações sociais.
A presença dos movimentos sociais reclama direitos em situações econômicas e políticas emergentes, aparece como resultante da distância entre os modelos institucionais e a realidade social cotidiana da população brasileira. Meu esforço em acompanhar os movimentos sociais está voltado à produção de alternativas viáveis para responder às exigências sociais da população brasileira, neste projeto, ao acesso à estrutura, organização e ação das instituições de pesquisa, ensino e extensão no país, enquanto parceiras na produção de conhecimento.
Essas ocupações dos espaços públicos emergiram no palco das negociações políticas internacionais em 2011, e reivindicam mudança no sistema econômico a partir da orientação política dessas relações econômicas, o que implica numa participação direta da população nas administrações de seus respectivos países, resultando em uma série de manifestações em milhares de cidades no mundo. Tive a oportunidade de participar, a partir da Marcha Xingu Vivo, das Marchas Interacionais para Dignidade, que envolveu países como Turquia, Egito, França, Espanha, Grécia.
A Marcha Xingu Vivo fez a abertura, em 01 de janeiro de 2012, do calendário das Marchas para a Dignidade. A Marcha Xingu Vivo percorreu quatro regiões do país, dez estados em quinze cidades brasileiras/os onde estavam estabelecidas as ocupações. A partir dessas ocupações dos espaços públicos, conhecidas internacionalmente como #Acampada, #Occupy, ou Indignados da Espanha, foram estabelecidas conexões entre os diversos movimentos sociais no Brasil e no mundo. Nesse contexto, a Marcha Xingu Vivo apresenta-se como importante mediadora entre os movimentos sociais brasileiros em todas as regiões do país, e ainda, torna-se importante mediadora entre o Movimento Indígena e as ocupações públicas nas cidades brasileiras, #Ocupa Brasil. Ambos os movimentos, reunidos, ganham significativa importância pois além de compreendem toda a extensão do território nacional, o Movimento Indígena abrange, para além do Brasil, as reivindicações nas Américas do Sul, Central e do Norte, e as ocupações abrangem, para além do Brasil, todos os continentes do planeta.
A Marcha Xingu Vivo como parte das Marchas pela/para a Dignidade, que neste mês de março de 2014 marca presença em todo o território espanhol, foram realizadas por grupos de pessoas com o propósito comum de acelerar o processo de descentralização dos poderes econômicos no mundo. A principal estratégia foi o fortalecimento de movimentos sociais locais, de categorias específicas, e especialmente os movimentos relacionados à dignidade dos povos e ao direito dos povos sobre sua própria terra. Especificamente a Marcha Xingu Vivo reivindica as ações do empreendimento "Usina Hidrelétrica Belo Monte", apresentando uma proposta de iniciativa popular para a mudança na lei que regula a convocação de Plebiscitos Populares e Referendos, dando direito à população de apresentar as propostas de plebiscitos e referendos a serem votadas pela própria população.
A mudança na lei é apresentada como estratégia para que a população das cidades diretamente atingidas pela construção da usina, assim como, a população do estado do Pará e a população brasileira, decidam através de Plebiscito Popular se querem ou não, a existência daquela usina hidrelétrica na Bacia Hidrográfica do Rio Xingu, nas terras amazônidas e brasileiras.
Por um lado, esses movimentos passam a fazer parte das reivindicações sociais cotidianas e locais em diversas cidades no país, como Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte, Porto Alegre, Manaus, Salvador; por outro lado, passam a reunir a população brasileira em torno de reivindicações em comum, como é o caso dos movimentos relacionados às ações que envolvem o evento "Copa do Mundo", assim como, o freio no aumento das passagens de ônibus em todas as capitais brasileiras.
As proporções que os movimentos sociais ganham hoje através das redes online não é possível precisar, uma vez que diariamente o número de pessoas em conexão online aumenta, assim como o número de grupos de debate, eventos, comunidades e propostas de interação online. Nesse sentido, essa proposta pretende ir adiante e somar forças para o diálogo com as populações amazônidas, de modo a contribuir para necessária trama de relações entre Povos da Amazônia e instituições de pesquisa, ensino e extensão na região, pois entendo que é a abertura de espaço para diálogo o caminho capaz de tornar satisfatória nossas respostas às expectativas sociais sobre as instituições brasileiras.
Assim sendo, se, enquanto pesquisadoras/es das instituições de ensino, pesquisa e extensão no Brasil, não podemos responder às exigências de uma reestruturação política no país em nossos espaços de pesquisas, conforme hoje reclama a população brasileira, podemos e devemos criar espaços para a parceira entre população e as instituições públicas, ganhando desses novos contextos as forças necessárias para a continuidade de nossos trabalhos. É neste sentido que apresento a proposta de Museu de Território da Amazônia enquanto caminho capaz de colocar em evidência a relação entre pesquisadoras/es e a população enquanto parceiras/os na produção de conhecimento.
Estes movimentos sociais passam a fazer parte do cotidiano das instituições na busca por respostas e diálogos com as queixas emergentes das populações, mais especialmente, a partir do trabalho desenvolvido por profissionais que dedicam seus esforços para produzir alternativas viáveis que respondam às situações de conflito presentes na insatisfação apresentada pela população brasileira e mundial durante as mobilizações. É por considerar inadiável nosso mergulho institucional a esses novos contextos sociológicos que apresento minha posição enquanto pesquisadora voltada ao estudo das relações sociais.
A presença dos movimentos sociais reclama direitos em situações econômicas e políticas emergentes, aparece como resultante da distância entre os modelos institucionais e a realidade social cotidiana da população brasileira. Meu esforço em acompanhar os movimentos sociais está voltado à produção de alternativas viáveis para responder às exigências sociais da população brasileira, neste projeto, ao acesso à estrutura, organização e ação das instituições de pesquisa, ensino e extensão no país, enquanto parceiras na produção de conhecimento.
Essas ocupações dos espaços públicos emergiram no palco das negociações políticas internacionais em 2011, e reivindicam mudança no sistema econômico a partir da orientação política dessas relações econômicas, o que implica numa participação direta da população nas administrações de seus respectivos países, resultando em uma série de manifestações em milhares de cidades no mundo. Tive a oportunidade de participar, a partir da Marcha Xingu Vivo, das Marchas Interacionais para Dignidade, que envolveu países como Turquia, Egito, França, Espanha, Grécia.
A Marcha Xingu Vivo fez a abertura, em 01 de janeiro de 2012, do calendário das Marchas para a Dignidade. A Marcha Xingu Vivo percorreu quatro regiões do país, dez estados em quinze cidades brasileiras/os onde estavam estabelecidas as ocupações. A partir dessas ocupações dos espaços públicos, conhecidas internacionalmente como #Acampada, #Occupy, ou Indignados da Espanha, foram estabelecidas conexões entre os diversos movimentos sociais no Brasil e no mundo. Nesse contexto, a Marcha Xingu Vivo apresenta-se como importante mediadora entre os movimentos sociais brasileiros em todas as regiões do país, e ainda, torna-se importante mediadora entre o Movimento Indígena e as ocupações públicas nas cidades brasileiras, #Ocupa Brasil. Ambos os movimentos, reunidos, ganham significativa importância pois além de compreendem toda a extensão do território nacional, o Movimento Indígena abrange, para além do Brasil, as reivindicações nas Américas do Sul, Central e do Norte, e as ocupações abrangem, para além do Brasil, todos os continentes do planeta.
A Marcha Xingu Vivo como parte das Marchas pela/para a Dignidade, que neste mês de março de 2014 marca presença em todo o território espanhol, foram realizadas por grupos de pessoas com o propósito comum de acelerar o processo de descentralização dos poderes econômicos no mundo. A principal estratégia foi o fortalecimento de movimentos sociais locais, de categorias específicas, e especialmente os movimentos relacionados à dignidade dos povos e ao direito dos povos sobre sua própria terra. Especificamente a Marcha Xingu Vivo reivindica as ações do empreendimento "Usina Hidrelétrica Belo Monte", apresentando uma proposta de iniciativa popular para a mudança na lei que regula a convocação de Plebiscitos Populares e Referendos, dando direito à população de apresentar as propostas de plebiscitos e referendos a serem votadas pela própria população.
A mudança na lei é apresentada como estratégia para que a população das cidades diretamente atingidas pela construção da usina, assim como, a população do estado do Pará e a população brasileira, decidam através de Plebiscito Popular se querem ou não, a existência daquela usina hidrelétrica na Bacia Hidrográfica do Rio Xingu, nas terras amazônidas e brasileiras.
Por um lado, esses movimentos passam a fazer parte das reivindicações sociais cotidianas e locais em diversas cidades no país, como Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte, Porto Alegre, Manaus, Salvador; por outro lado, passam a reunir a população brasileira em torno de reivindicações em comum, como é o caso dos movimentos relacionados às ações que envolvem o evento "Copa do Mundo", assim como, o freio no aumento das passagens de ônibus em todas as capitais brasileiras.
As proporções que os movimentos sociais ganham hoje através das redes online não é possível precisar, uma vez que diariamente o número de pessoas em conexão online aumenta, assim como o número de grupos de debate, eventos, comunidades e propostas de interação online. Nesse sentido, essa proposta pretende ir adiante e somar forças para o diálogo com as populações amazônidas, de modo a contribuir para necessária trama de relações entre Povos da Amazônia e instituições de pesquisa, ensino e extensão na região, pois entendo que é a abertura de espaço para diálogo o caminho capaz de tornar satisfatória nossas respostas às expectativas sociais sobre as instituições brasileiras.
Assim sendo, se, enquanto pesquisadoras/es das instituições de ensino, pesquisa e extensão no Brasil, não podemos responder às exigências de uma reestruturação política no país em nossos espaços de pesquisas, conforme hoje reclama a população brasileira, podemos e devemos criar espaços para a parceira entre população e as instituições públicas, ganhando desses novos contextos as forças necessárias para a continuidade de nossos trabalhos. É neste sentido que apresento a proposta de Museu de Território da Amazônia enquanto caminho capaz de colocar em evidência a relação entre pesquisadoras/es e a população enquanto parceiras/os na produção de conhecimento.
Parece que herdamos um sentimento de Humanidade Yanomami durante nossas incursões nas Terras Yanomami. Digo isso, pois é o que penso justificar o modo diferenciado como a equipe, o grupo, faz presente a compartilha e o pertencimento nas relações cotidianas. Quero dizer que talvez sejamos, um pouco, caçadoras e caçadores Yanomami, e nossa caça serve para alimentar o grupo, jamais a nós mesmas/os. É da caça capturada por nossas parceiras e parceiros que nos alimentamos.
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Dezembro de 2004. Serra do Parima, Terras Yanomami. União do Brasil com a Venezuela. |
Ao Seu Orlando, ao Dr. Hugo e sua companheira Léa, à MSc. Raquel, ao Dr. Ulisses, ao sempre presente Victor, e às novas parcerias, Henrique e Sarah.
[1]
Apresento a relação entre este projeto
e a proposta apresentada, pela “Nova Cartografia Social da Amazônia”
(“Território e Etnicidade na Amazônia”, Alfredo Wagner Berno de Almeida, 2008,
PPGAS/UFAM), que trata de um mapeamento etnográfico de movimentos e grupos
sociais emergentes nos contextos amazônicos, mapeamento a partir do qual é
possível visualizar uma Rede de Museus que abranja pesquisa, arte, turismo,
artesanato, economias locais, conhecimentos tradicionais, cosmologias, línguas,
entre outras fontes de produção de conhecimento e vida social amazônica. Vale
ressaltar que o projeto “Nova Cartografia Social da Amazônia” não só pode ser
tomado como referência para a organização de uma Rede de Museus que reúna
comunidades, associações e grupos sociais amazônicos, como também pode ser uma
parceria capaz de acelerar a identificação de uma rede de museus. Enfim, uma
proposta capaz de mediar diálogos para as diversidades humanas e ambientais na
Amazônia.
[i]A palavra território, do latim,
territorium,
abrange sentido material enquanto terra delimitada, e sentido simbólico ao
indicar a relação entre quem usufrui do território, apropriação, e quem está
alijado de seu usufruto (Haesbaert, 1997). O emprego contemporâneo do termo
“abrange noções derivadas, perpassando diferentes domínios do conhecimento,
quais sejam: geografia, economia, antropologia e política.” (“Território e
Etnicidade na Amazônia”, Alfredo Wagner Berno de Almeida, 2008, PPGAS/UFAM). As
noções de território e territorialização participam da definição conceitual do
projeto “Nova Cartografia Social da Amazônia”, coordenado pelo último autor
citado.
[ii]
Daniel Calado Café, em sua dissertação “Patrimônio, identidade e memória”,
mestrado em Museologia na Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias,
Lisboa, 2007, apresenta o Museu do Território de Alcanena como parte de
estratégias para “preservação, salvaguarda e divulgação das tradições e do
patrimônio”, reação aos problemas sociais e econômicos resultado de problemas ambientaisprovocados
pela indústria do curtume, ao longo de décadas. Cabe fazer lembrar que o Museu
do Territorio de Alcanena também abriga um “o Carsoscópio”, que é um “centro de
interpretação integrado na rede de projetos de ciência viva, elegendo como assunto
central o patrimônio natural local”. Ver também “Turismo e Museu de Favela“ que
trata sobre o Museu de Favela, um Museu de Território queintegra as comunidades
do Pavão, Pavãozinho e Cantagalo na cidade do Rio de Janeiro, Brasil.
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