segunda-feira, 31 de março de 2014

O QUE MERECE UM ESTUPRADOR? Uma possível relação entre merecimento e estupro.

O QUE MERECE UM ESTUPRADOR?
Reconhecer a importância desta pergunta é avaliar o merecimento do bandido. E, principalmente, deixar as vítimas em paz.

Essa pergunta é um esforço por fazer emergir uma possível relação entre merecimento e estupro. Problema que emergiu do outro texto ESTUPRO NÃO É QUESTÃO DE MERECIMENTO, que apresentou uma reflexão sobre aquela campanha "não mereço ser estuprada". Quero lembrar que me custa náuseas escrever, aquela chamada daquela campanha, mesmo entre aspas, a repugnância que sinto por aquela frase é grande. Penso nas pessoas que foram estupradas, nas mulheres que sofreram estupro. Então pergunto: o que essa campanha está dizendo sobre mulheres que foram estupradas, para elas mesmas? Pensemos nisso, sejamos mulheres que foram estupradas quando tentamos falar sobre esse assunto. Colocar-se no lugar da/o "outra/o" deveria ser uma prática comum às pessoas que pretendem fazer campanhas como essa.
Numa análise da frase em si, de sua estrutura, e menos da sensação que ela causa, identifico um conflito entre o significado da negação e o fato, a existência do fato: mulheres estupradas existem, o que fazer com o merecimento das mulheres que foram estupradas? Espero que esteja conseguindo me fazer compreender. Essa ideia não deixa espaço para que todos os estupradores possam ser perdoados? Ora, se considerarmos estupro questão de merecimento, elas podem ter merecido o estupro! Socorro! Isso a campanha afirma nas "entrelinhas", é visível que a negação é uma forma eficaz de criarmos armadilhas contra quem dizemos estar defendendo. Então, o que leva a termos dentro de campanhas que deveriam combater estupros uma justificativa para a existência de estupros?
Esse é "um lado da campanha" que "não foi visto" por quem projetou a campanha. Mas, será que não foi visto??? Não seria ingênua em afirmar que é ingenuidade de quem fez a campanha, a criação dessa armadilha sórdida?
Questiono a "inocência " de quem produziu a campanha, e principalmente, quem fez a maldita pesquisa que gerou toda essa situação, ou são os homens brasileiros, em sua maioria, estupradores em potencial? Todos os desdobramentos devem ser considerados. É chegada a hora de lidarmos com a realidade tal qual ela se apresenta.
Então, para a inocência de quem produziu a campanha digo: sabemos que merecer, ou não, sofrer violência (nesse caso, estupro) é comum entre grupos sociais que naturalizam a violência em seus cotidianos, como é o que vive quem está nas prisões, onde a grande maioria são bandidos. Então essa conversa é papo de bandido, e as pessoas que trabalham com esse tipo de campanha estão conscientes disso. Não falo das mulheres que apoiaram, que tiraram as roupas e se fotografaram com a frase escrita num cartaz, frequentemente escondendo as partes mais íntimas de seus corpos, seios e colo, essas mulheres, com certeza, moveram suas ações na tentativa de contribuir numa campanha contra o abominável.
Considerando essa reflexão, pergunto: qual foi o bandido que fez sua conversa virar campanha? A realidade no mundo do crime é definir quem merece, ou não, violência, pois para o "mundo do crime" a violência está naturalizada, mas, nós, que pensamos a vida social a partir do absoluto respeito à dignidade humana, devemos ultrapassar aquela condição miserável do "mundo do crime".
Responder aos resultados infames daquela pesquisa sobre mulheres que vestem roupas provocantes não é justificativa para essa armadilha contra nós mulheres. E, mais uma coisa, faço questão de relacionar essas contradições explícitas ao fato de ter sido atacada, por perfis que se declararam vinculados à campanha, por apresentar uma crítica à tal campanha, que é simplesmente a publicação anterior a esta neste mesmo blog.
Então, não duvido de mais nada, e agora chamo a atenção para responsabilizar quem colocou aquela campanha na rede. Responsabilidade é o mínimo que devemos ter sobre nossos feitos.

O QUE MERECE UM ESTUPRADOR?

Estou propondo outros caminhos para a reflexão, pois, não há dúvida de que a reflexão deve ser outra. Espero que isso esteja mais do que evidente.pois fico pensando nas pessoas que foram estupradas, nas mulheres que sofreram estupro, o que essa campanha está dizendo sobre mulheres que foram estupradas. Existe um conflito entre o significado da negação e o fato. Espero que consigam entender o que estou dizendo. E, justamente por isso, todas os estupradores podem ser perdoados, por que elas podem ter merecido. Isso é conversa de bandido. E as pessoas que estão fazendo essa campanha perderam completamente o bom senso. Para responder aos resultados infames daquela pesquisa sobre mulheres que vestem roupas provocantes, a reflexão deve ser outra. Espero que isso esteja mais do que evidente.
Naquela campanha alguém confundiu o sentido da violência, e apresentou a crítica a uma pesquisa a partir do merecimento das mulheres sobre sofrer um estupro, vale notar que a frase está muito mal construída "não mereço".
Fato é que, violência não é questão de merecimento. Já não temos dúvida sobre isso e espero que possamos entender a naturalização da violência que a própria companha estava veiculando.
Como mulher digo, não foi suportável conviver com aquela campanha, sem fazer alguma coisa para mudar. Espero que as pessoas que estavam trabalhando para realizar a campanha tenham consideração pelo meu esforço, e de todas as outras pessoas que estão aqui, nas redes sociais, preocupadas com o que está sendo veiculado, e passem a respeitar nossas posições. Ataques pessoais são constrangedores e não são produtivos.
Como disse no outro texto, essa conversa sobre merecer, ou não, alguma forma de violência faz parte do vida social entre criminosos. Estamos incorporando o "mundo do crime" em nosso cotidiano?
Como disse, a realidade no mundo do crime é definir quem merece, ou não, violência, pois para o "mundo do crime" a violência está naturalizada, mas, nós, que pensamos a vida social a partir do absoluto respeito à dignidade humana, devemos ultrapassar aquela condição miserável do "mundo do crime". E, quando propomos uma campanha pública, com a qual as pessoas vão "ter que conviver", devemos apresentar outras referências para aquelas pessoas que entendem que violência tem relação com "merecimento" no cotidiano da vida social. Em outras palavras, a "resposta" que essa campanha apresentou para aquela pesquisa sobre a opinião de homens a respeito de "mulheres que usam roupas provocantes", só fez reafirmar a violência.
Por entender e sentir o impacto dessa campanha como um erro, afirmo que estamos no caminho errado, e apresento essa crítica tanto para esta campanha, quanto para as leis brasileiras que tratam sobre os crimes de estupro.
A campanha mostrou, por um lado, que existem mulheres que ingenuamente assimilam a opressão e sugerem que sejam julgadas sobre o fato de merecerem, ou não, serem estupradas. Elas afirmam que não merecem, mas quem está vendo seus corpos nus com frases escritas "não mereço", podem não concordar com elas, e já tive a infelicidade de presenciar uma série de posts e comentários com respostas absurdas à campanha. Por isso afirmo aqui que nós mulheres não devemos nos expor daquela maneira, isso, sim, é ingenuidade. E, se essas mulheres são ingênuas, as pessoas que apresentaram a campanha são, no mínimo, incompetentes.
Estamos vivendo um caos de horror, pois, por outro lado, aquela pesquisa revela que maioria dos homens entrevistados são estupradores em potencial.  Espero estar sendo clara e conseguindo me fazer compreender.
Mas, vamos mais longe, vamos propor uma outra (existem muitas outras) orientação para a campanha, vamos discutir o que merece um estuprador, para começar, mas também vamos ampliar e pensar sobre o que significa o estupro, quem pratica o estupro, e... especialmente o que leva os grupos sociais, as comunidades, a praticarem linchamento; que é a mais horrível rejeição social a um indivíduo. Ou seja, o mais alto nível de rejeição social ao convívio com um indivíduo, condená-lo à morte sob tortura um crime hediondo praticado coletivamente.
Muito bem, então vamos tirar o foco do debate sobre as vítimas e passar a pensar em como estamos trabalhando com os criminosos. É nesse sentido que apresento o debate a seguir.
Tenho apresentado um debate sobre o direito de pedir pena de morte para estupradores. Para os mais exaltadas, calma, não estamos a fim de matar pessoas! Mas, devemos considerar a realidade como ela se apresenta. Então, pessoas de bom senso, vamos lembrar que no Brasil e no mundo acontecem, muito frequentemente, linchamentos por estupro.
Então, pensando em desarticular a violência do estupro e a violência gerada pelo estupro, o linchamento, vamos refletir sobre  a necessidade de, hoje, as leis abarcarem uma outra ideia de merecimento: o que merece um estuprador? E proponho pensarmos esse merecimento a partir dos grupos sociais, da mais impressionante reação dos grupos sociais contra estupradores:


Estupradores merecem ser linchados?

A questão central, nesse caso, é o que fazemos com a revolta dos grupos sociais. Afinal, as pessoas não praticam linchamentos por que acham bacana, isso é um fato. É muita revolta. Acredito que o respeito aos grupos sociais nos levará a encontrar o melhor caminho. Pois, aquilo que não conseguimos resolver individualmente, entendo que deve ser resolvido para o que está além de nós, ou seja, os grupos sociais devem nos ajudar a encontrar o caminho, partindo do estudo dos diversos casos de linchamento contra estupradores, inclusive nas cadeias.
Como antropóloga reconheço que a revolta dos grupos sociais é sempre legítima. As determinações dos grupos sociais que precisam alcançar uma condição de continuidade para a vida social do grupo devem ser respeitadas e reconhecidas pelos outros grupos, especialmente quando já está definido no cotidiano das relações sociais que não se pode conter um determinado tipo de ação dos grupos, como é o caso dos linchamentos. Em outras palavras, estou afirmando que os linchamentos são estratégia dos grupos para sua própria sobrevivência. Ou seja, para os grupos que praticam o linchamento a vida social do próprio grupo é ameaçada pela vida do estuprador, quero dizer que os linchamentos só acontecem por que é insuportável a presença de estupros nesses grupos.
Mas, o que estamos fazendo com o fato desses grupos não suportarem a presença de estupradores nos termos da legislação brasileira? Estamos negando o direito dos grupos pedirem por pena de morte para estupradores. Suponho que já deva ser possível compreender um pouco sobre o quanto temos contribuído, através das leis e do pensamento impresso nas campanhas e pesquisas, para que o cenário dos estupros seja, hoje, tal qual ele se apresenta: um horror, e digo isso como mulher.
Chamando a atenção para a realidade vivida por grupos sociais e comunidades no cotidiano,  como antropóloga, proponho que reconheçamos nossa realidade, respeitemos nossas limitações enquanto Estado Nacional e dialoguemos com a condição da vida cotidiana dos grupos sociais, por isso defendo que, imediatamente, as leis estatais permitam o reconhecimento da legitimidade da revolta social contra estupradores e incorporem o julgamento sobre a vida ou a morte de estupradores em instâncias do direito legal, por um lado, para evitar que isso aconteça como um espetáculo do horror no cotidiano dos grupos sociais no Brasil; por outro para aliviar a tensão cotidiana vivida nos grupos sociais que lutam por sobreviver com o mínimo de dignidade, pois os linchamentos, enquanto espetáculos de horror, tem por propósito deixar evidente o que são capazes de fazer aquelas pessoas que não suportam esse tipo de crime. Ou seja, o espetáculo é para desencorajar estupradores.
Então, se existe a necessidade dos grupos sociais de condenarem estupradores à morte num espetáculo de horror, que são os linchamentos, entendo que o Estado Brasileiro, que se propõe a reunir em suas leis a previsão das respostas necessárias à orientação mínima da vida social dos diversos grupos, de um lado, deve considerar a falta de controle sobre os linchamentos, e de outro, deve ter como referência fundamental o respeito mínimo à dignidade humana, conforme entendida pela população brasileira, pelas comunidades, nos diversos grupos sociais.
Para afirmar isso aponto que: o que dá razão de existirem os estudos em antropologia sobre estratégias dos grupos para a proteção da vida social dentro dos próprios grupos, deve servir de apoio para orientarmos nas dimensões sociológicas mais amplas, como é o caso das leis dos estados nacionais, a difícil trama que envolve esse palco de horrores.
A revolta dos grupos sociais que praticam o linchamento é algo que tem se mostrado superior às instituições públicas que pretendem garantir a paz, a segurança e a tranquilidade da vida social, quero dizer: hoje não conseguimos impedir que linchamentos aconteçam, esta condição é determinante para minha defesa sobre criarmos espaço para o julgamento e condenação de estupradores à morte, ao invés de deixar que isso aconteça de modo a intensificar o horror da violência no cotidiano das comunidades brasileiras.
Nesse sentido, incorporar o julgamento à pena de morte para estupradores serve para evitar linchamentos, significa dar o direito às vítimas, e a seus grupos sociais de pertença, a pedir por pena de morte para esse tipo de criminoso. Entendo que este é um caminho para lidar com a realidade tal qual se apresenta, de modo a contribuir para evitar mais violência, e também para que os preceitos dos grupos sociais sobre respeito mínimo à dignidade humana, sejam respeitados, considerados e tomados por referência para a legislação brasileira.
A ideia da pena de morte ultrapassa posições individuais, é possível entender que esse tipo de coisa não se pode pretender resolver homogeneizando um padrão de reação das vítimas e de seus grupos de pertença. Por isso a ideia é trazer a voz dos grupos sociais que sofrem estupros. E proponho que consideremos também que a forma mais horrenda de rejeição social é o linchamento, e o tipo de crime mais frequentemente associado a linchamentos são os crimes por estupro. Portanto, quando ignoramos o sofrimento dos grupos sociais, estamos produzindo um mal estar que tende a crescer como uma avalanche. A falta de respeito é contra mulheres e contra seus grupos sociais.
Assim, entendo que nós, na nossa "superioridade" reflexiva, nos sentimos no direito de impor aos grupos sociais uma sobrevida moral. Esse pensamento que esmaga os grupos sociais em nome de uma performance moral, consequentemente hipócrita, é conhecido desde o início dos processos de colonização. É chegada a hora de assumir nossas incompetências. Portanto, se não existe uma maneira de ultrapassar esse processo por uma estratégia homogeneizadora: cada vítima de estupro, e cada grupo social ao qual uma vítima pertence, devem saber da necessidade de pedir por condenação de estupradores à pena de morte. Para que isso acontece a lei deve prescrever esse entendimento.
Considerando essa análise, de outro jeito, prezadas/os, estamos roubando dos grupos sociais seu direito à legitimidade ao responder à violência contra uma concepção de direito e dignidade da pessoa humana que sustenta a vida desses grupos, e, em consequência disso, as leis do estado estão criando um sistema de convulsão social que, de um lado, explode em mais violência através de linchamentos e estupros coletivos em prisões; de outro lado, legitima estupros contra pessoas e, sobretudo, contra os grupos sociais, ao não dar espaço legítimo para esses grupos reclamarem o que consideram seus direitos. Daí, temos a necessidade imediata de mudar a lei dando direito a pedir pela condenação à pena de morte para estupradores.

Estuprador não vale a própria vida, é o que definem os linchamentos

Linchamentos são reais, existem, são fatos, e uma campanha que proponha sobre a mudança na lei, para que as vítimas e grupos de pertença das vítimas (famílias, comunidades) possam pedir por pena de morte para estupradores, orienta as revoltas contra esse tipo de crime de um outro jeito: faz do  direito de pedir por pena morte para estupradores, uma reflexão sobre o quanto é insuportável conviver com estupradores.
Refletir sobre o quanto é insuportável conviver com estupradores nos leva a ultrapassar a violência e entrar no campo do direito, do juízo, da consciência sobre o drama físico, psíquico e social vivido pela violência sexual, seja ela contra quem for.

Quais as leis que julgam e condenam estupradores a linchamentos?

Faz parte da nossa realidade o fato do Estado não conseguir conter os linchamentos. Cada linchamento se apresenta como uma "alternativa" dos grupos sociais para "resolver" o que o Estado não está tendo capacidade de resolver. Então criar espaço para a condenação à pena de morte para estupradores em instâncias legais, é uma estratégia coerente para orientarmos o fato.
Peço, por favor, ajudem a mudar essa situação, a desmobilizar aquela campanha, a assumirmos as implicações que nossas posições têm hoje com esses resultados catastróficos, conforme se apresentam. Vamos orientar a questão noutro sentido.
Como mulher digo que é insuportável conviver com aquela campanha. Dá vontade de fugir das redes sociais para não ver esse tipo de entendimento, o lugar no qual estão sendo colocadas as mulheres. Nós não merecemos conviver com aquele tipo de ideia expressa na campanha. Estupro e violência nada tem a ver com merecimento.
Infelizmente, relacionar estupro com merecimento numa campanha só evidencia o quanto, de fato, essa relação da violência com merecimento está sendo naturalizada. Mas, com o apoio das pessoas amigas, posso dizer num tom de boas expectativas para um futuro sempre melhor: vamos fazer o melhor e aproveitar o fato dessa ideia ter vindo à tona. Muitas de nós não percebíamos as dimensões dessa relação da violência com merecimento já inculcada nas nossas cabeças, a ponto de apoiar uma campanha dessas. Minhas amigas, queridas, dignas, nós não merecemos essa campanha. Vamos nos perguntar sobre o que um estuprador merece, esse é o nosso ponto.
Enfim, mais aliviada depois de escrever esse texto, já recebi algumas palavras agressivas, já tive postagens deletadas, já tive que bloquear fakes e perfis de gente que não gosta de receber críticas, mesmo que isso custe a dignidade de nós, mulheres. Tenso, mas já foi pior, houve o tempo em que a violência era tão legitimada que, se quer, vinha à tona. Então, posso dizer que esse debate está servindo para superar a opressão da violência contra a mulher como condição da vida social humana e, por outro lado, do respeito à vida social mais cotidiana que se sente ameaçada por esse tipo de crime.

Que estupradores sejam julgados neste momento, aqui e agora, com ou sem linchamentos.
Permitir que as pessoas que sofreram esse tipo de violência tenham o direito de se posicionar diante da justiça requerendo o que acreditam que estupradores merecem é o caminho do respeito, especialmente quando vivemos numa sociedade onde esse crime é condenado à linchamentos, no cotidiano das comunidades, ou ainda, são vingados os seus crimes, impiedosamente, quando vão para dentro das cadeias.


 
 
Que o caminho da justiça e da dignidade é seguido pelos pés do respeito recíproco sob poderes compartilhados em igual direito. Vamos ouvir os grupos sociais.

sábado, 29 de março de 2014

ESTUPRO NÃO É QUESTÃO DE MERECIMENTO

Papo reto: essa campanha é papo de bandido...
***no final desse texto, coloco um trecho do outro texto "O que merece um estuprador, pois muitas pessoas estão acessando somente esta publicação.

Estupro não é questão de merecimento. Alguém está confundindo o sentido da violência. Violência não é questão de merecimento, alguém tem dúvida sobre isso? Espero que possamos entender a naturalização da violência que a própria companha "não mereço ser estuprada" está veiculando. Socorro.
 Estou aqui, primeiro como mulher, não estou suportando essa campanha horrorosa "ela não merece ser estuprada", sei que essa conversa sobre merecer, ou não, alguma forma de violência faz parte do vida social entre criminosos. Estamos incorporando o "mundo do crime" em nosso cotidiano?
A realidade no mundo do crime é definir quem merece, ou não, violência, pois para o "mundo do crime" a violência está naturalizada, mas, nós, que pensamos a vida social a partir do absoluto respeito à dignidade humana, devemos ultrapassar aquela condição miserável do "mundo do crime". E, quando propomos uma campanha pública, com a qual as pessoas vão "ter que conviver", devemos apresentar outras referências para aquelas pessoas que entendem que violência tem relação com "merecimento" no cotidiano da vida social. Em outras palavras, a "resposta" que essa campanha apresentou para aquela pesquisa sobre a opinião de homens a respeito de "mulheres que usam roupas provocantes", só fez reafirmar a violência.
Por entender, e sentir esse erro, afirmo que estamos no caminho errado, e apresento isso tanto para esta campanha, quanto para as leis brasileiras que tratam sobre os crimes de estupro.
A campanha mostrou que existem mulheres que ingenuamente assimilam a opressão e sugerem que sejam julgadas sobre o fato de merecerem, ou não, serem estupradas. Elas afirmam, mas quem está vendo seus corpos nus com frases escritas, podem não concordar com elas. Por isso afirmo aqui que elas não deveriam se expor dessa maneira. Se essas mulheres são ingênuas, as pessoas que apresentaram a campanha são incompetentes.
Estamos vivendo um caos de horror, pois, por outro lado, aquela pesquisa revela que maioria dos homens entrevistados são estupradores em potencial.  Espero estar sendo clara e conseguindo me fazer compreender.

Estupradores merecem ser linchados?

Muito bem, então vamos tirar o foco do debate sobre as vítimas e passar a pensar em como estamos trabalhando com os criminosos. É nesse sentido que apresento o debate a seguir.
Tenho apresentado um debate sobre o direito de pedir pena de morte para estupradores. Para os mais exaltadas, calma, não estamos a fim de MATAR pessoas! Mas, devemos considerar a realidade como ela se apresenta. Então, pessoas de bom senso, vamos lembrar que no Brasil e no mundo acontecem, muito frequentemente, linchamentos por estupro.
Então, pensando em desarticular a violência do estupro e a violência gerada pelo estupro, o linchamento, vamos refletir sobre  a necessidade de, hoje, as leis abarcarem uma outra ideia de merecimento: estupradores merecem ser linchados?

A questão central, nesse caso, é o que fazemos com a revolta dos grupos sociais.

Como antropóloga reconheço que a revolta dos grupos sociais é sempre legítima. As determinações dos grupos sociais que precisam alcançar uma condição de continuidade para a vida social do grupo devem ser respeitadas e reconhecidas pelos outros grupos, especialmente quando já está definido no cotidiano das relações sociais que não se pode conter um determinado tipo de ação dos grupos, como é o caso dos linchamentos. Em outras palavras, estou afirmando que os linchamentos são estratégia dos grupos para sua própria sobrevivência. Ou seja, para os grupos que praticam o linchamento a vida social do próprio grupo é ameaçada pela vida do estuprador, quero dizer que os linchamentos só acontecem por que é insuportável a presença de estupros nesses grupos.
Mas, o que estamos fazendo com o fato desses grupos não suportarem a presença de estupradores nos termos da legislação brasileira? Estamos negando o direito dos grupos pedirem por pena de morte para estupradores. Suponho que já deva ser possível compreender um pouco sobre o quanto temos contribuído, através das leis e do pensamento impresso nas campanhas e pesquisas, para que o cenário dos estupros seja, hoje, tal qual ele se apresenta: um horror, e digo isso como mulher.
Chamando a atenção para a realidade vivida por grupos sociais e comunidades no cotidiano,  como antropóloga, proponho que reconheçamos nossa realidade, respeitemos nossas limitações enquanto Estado Nacional e dialoguemos com a condição da vida cotidiana dos grupos sociais, por isso defendo que, imediatamente, as leis estatais permitam o reconhecimento da legitimidade da revolta social contra estupradores e incorporem o julgamento sobre a vida ou a morte de estupradores em instâncias do direito legal, por um lado, para evitar que isso aconteça como um espetáculo do horror no cotidiano dos grupos sociais no Brasil; por outro para aliviar a tensão cotidiana vivida nos grupos sociais que lutam por sobreviver com o mínimo de dignidade, pois os linchamentos, enquanto espetáculos de horror, tem por propósito deixar evidente o que são capazes de fazer aquelas pessoas que não suportam esse tipo de crime. Ou seja, o espetáculo é para desencorajar estupradores.
Então, se existe a necessidade dos grupos sociais de condenarem estupradores à morte num espetáculo de horror, que são os linchamentos, entendo que o Estado Brasileiro, que se propõe a reunir em suas leis a previsão das respostas necessárias à orientação mínima da vida social dos diversos grupos, de um lado, deve considerar a falta de controle sobre os linchamentos, e de outro, deve ter como referência fundamental o respeito mínimo à dignidade humana, conforme entendida pela população brasileira, pelas comunidades, nos diversos grupos sociais.
Para afirmar isso aponto que: o que dá razão de existirem os estudos em antropologia sobre estratégias dos grupos para a proteção da vida social dentro dos próprios grupos, deve servir de apoio para orientarmos nas dimensões sociológicas mais amplas, como é o caso das leis dos estados nacionais, a difícil trama que envolve esse palco de horrores.
A revolta dos grupos sociais que praticam o linchamento é algo que tem se mostrado superior às instituições públicas que pretendem garantir a paz, a segurança e a tranquilidade da vida social, quero dizer: hoje não conseguimos impedir que linchamentos aconteçam, esta condição é determinante para minha defesa sobre criarmos espaço para o julgamento e condenação de estupradores à morte, ao invés de deixar que isso aconteça de modo a intensificar o horror da violência no cotidiano das comunidades brasileiras.
Nesse sentido, incorporar o julgamento à pena de morte para estupradores serve para evitar linchamentos, significa dar o direito às vítimas, e a seus grupos sociais de pertença, a pedir por pena de morte para esse tipo de criminoso. Entendo que este é um caminho para lidar com a realidade tal qual se apresenta, de modo a contribuir para evitar mais violência, e também para que os preceitos dos grupos sociais sobre respeito mínimo à dignidade humana, sejam respeitados, considerados e tomados por referência para a legislação brasileira.
De outro lado, não existe uma maneira de ultrapassar esse processo por uma estratégia homogeneizadora: cada vítima de estupro, e cada grupo social ao qual uma vítima pertence, devem saber da necessidade de pedir por condenação de estupradores à pena de morte.
Considerando essa análise, de outro jeito, prezadas/os, estamos roubando dos grupos sociais seu direito à legitimidade ao responder à violência contra uma concepção de direito e dignidade da pessoa humana que sustenta a vida desses grupos, e, em consequência disso, as leis do estado estão criando um sistema de convulsão social que, de um lado, explode em mais violência através de linchamentos e estupros coletivos em prisões; de outro lado, legitima estupros contra pessoas e, sobretudo, contra os grupos sociais, ao não dar espaço legítimo para esses grupos reclamarem o que consideram seus direitos. Daí, temos a necessidade imediata de mudar a lei dando direito a pedir pela condenação à pena de morte para estupradores.

Estuprador não vale a própria vida, é o que definem os linchamentos

Linchamentos são reais, existem, são fatos, e uma campanha que proponha sobre a mudança na lei, para que as vítimas e grupos de pertença das vítimas (famílias, comunidades) possam pedir por pena de morte para estupradores, orienta as revoltas contra esse tipo de crime de um outro jeito:faz do  direito de pedir por pena morte para estupradores, uma reflexão sobre o quanto é insuportável conviver com estupradores. Refletir sobre o quanto é insuportável conviver com estupradores nos leva a ultrapassarmos a violência e entrarmos no campo do direito, do juízo, da consciência sobre o drama físico, psíquico e social vivido pela violência sexual, seja ela contra quem for.

Quais as leis que julgam e condenam estupradores a linchamentos?

Faz parte da nossa realidade o fato do Estado não conseguir conter os linchamentos, e isso cada linchamento se apresenta como uma "alternativa" dos grupos sociais para "resolver" o que o Estado não está tendo capacidade de resolver. Então criar espaço para a condenação à pena de morte para estupradores em instâncias legais, é uma estratégia coerente para orientarmos o fato.
Peço, por favor, ajudem a mudar essa situação, a desmobilizar aquela campanha, a assumirmos as implicações que nossas posições têm hoje com esses resultados catastróficos, conforme se apresentam. Vamos orientar a questão noutro sentido.
Como mulher digo que é insuportável conviver com aquela campanha. Dá vontade de fugir das redes sociais para não ver esse tipo de entendimento, o lugar no qual estão sendo colocadas as mulheres. Nós não merecemos conviver com aquele tipo de ideia expressa na campanha. Estupro e violência nada tem a ver com merecimento.
Infelizmente, relacionar estupro com merecimento numa campanha só evidencia o quanto, de fato, essa relação da violência com merecimento está sendo naturalizada. Mas, com o apoio das pessoas amigas, posso dizer num tom de boas expectativas para um futuro sempre melhor: vamos fazer o melhor e aproveitar o fato dessa ideia ter vindo à tona. Muitas de nós não percebíamos as dimensões dessa relação da violência com merecimento já inculcada nas nossas cabeças, a ponto de apoiar uma campanha dessas. Minhas amigas, queridas, dignas, nós não merecemos essa campanha. Vamos nos perguntar sobre o que um estuprador merece, esse é o nosso ponto.
Enfim, mais aliviada depois de escrever esse texto, já recebi algumas palavras agressivas, já tive postagens deletadas, já tive que bloquear fakes e perfis de gente que não gosta de receber críticas, mesmo que isso custe a dignidade de nós, mulheres. Tenso, mas já foi pior, houve o tempo em que a violência era tão legitimada que, se quer, vinha à tona. Então, posso dizer que esse debate está servindo para superar a opressão da violência contra a mulher como condição da vida social humana e, por outro lado, do respeito à vida social mais cotidiana que se sente ameaçada por esse tipo de crime.

Que estupradores sejam julgados, aqui e agora, com ou sem linchamentos.
Que o caminho da justiça e da dignidade se faça realidade.



 
Um trecho da outra publicação:

"[...] "não mereço ser estuprada". Quero lembrar que me custa náuseas escrever, aquela chamada daquela campanha, mesmo entre aspas, a repugnância que sinto por aquela frase é grande. Penso nas pessoas que foram estupradas, nas mulheres que sofreram estupro. Então pergunto: o que essa campanha está dizendo sobre mulheres que foram estupradas, para elas mesmas? Pensemos nisso, sejamos mulheres que foram estupradas quando tentamos falar sobre esse assunto. Colocar-se no lugar da/o "outra/o" deveria ser uma prática comum às pessoas que pretendem fazer campanhas como essa.
Numa análise da frase em si, de sua estrutura, e menos da sensação que ela causa, identifico um conflito entre o significado da negação e o fato, a existência do fato: mulheres estupradas existem, o que fazer com o merecimento das mulheres que foram estupradas? Espero que esteja conseguindo me fazer compreender. Essa ideia não deixa espaço para que todos os estupradores possam ser perdoados? Ora, se considerarmos estupro questão de merecimento, elas podem ter merecido o estupro! Socorro! Isso a campanha afirma nas "entrelinhas", é visível que a negação é uma forma eficaz de criarmos armadilhas contra quem dizemos estar defendendo. Então, o que leva a termos dentro de campanhas que deveriam combater estupros uma justificativa para a existência de estupros?
Esse é "um lado da campanha" que "não foi visto" por quem projetou a campanha. Mas, será que não foi visto??? Não seria ingênua em afirmar que é ingenuidade de quem fez a campanha, a criação dessa armadilha sórdida.
Questiono a "inocência " de quem produziu a campanha, e principalmente, quem fez a maldita pesquisa que gerou toda essa situação, ou são os homens brasileiros, em sua maioria, estupradores em potencial? Todos os desdobramentos devem ser considerados. É chegada a hora de lidarmos com a realidade tal qual ela se apresenta.
Então, para a inocência de quem produziu a campanha digo: sabemos que merecer, ou não, sofrer violência (nesse caso, estupro) é comum entre grupos sociais que naturalizam a violência em seus cotidianos, como é o que vive quem está nas prisões, onde a grande maioria são bandidos. Então essa conversa é papo de bandido, e as pessoas que trabalham com esse tipo de campanha estão conscientes disso. Não falo das mulheres que apoiaram, que tiraram as roupas e se fotografaram com a frase escrita num cartaz, frequentemente escondendo as partes mais íntimas de seus corpos, seios e colo, essas mulheres, com certeza, moveram suas ações na tentativa de contribuir numa campanha contra o abominável.
Considerando essa reflexão, pergunto: qual foi o bandido que fez sua conversa virar campanha? A realidade no mundo do crime é definir quem merece, ou não, violência, pois para o "mundo do crime" a violência está naturalizada, mas, nós, que pensamos a vida social a partir do absoluto respeito à dignidade humana, devemos ultrapassar aquela condição miserável do "mundo do crime".
Responder aos resultados infames daquela pesquisa sobre mulheres que vestem roupas provocantes não é justificativa para essa armadilha contra nós mulheres. E, mais uma coisa, faço questão de relacionar essas contradições explícitas ao fato de ter sido atacada, por perfis que se declararam vinculados à campanha, por apresentar uma crítica à tal campanha, que é simplesmente a publicação anterior a esta neste mesmo blog.
Então, não duvido de mais nada, e agora chamo a atenção para responsabilizar quem colocou aquela campanha na rede. Responsabilidade é o mínimo que devemos ter sobre nossos feitos.

O QUE MERECE UM ESTUPRADOR?"

BRASIL DAS AMAZONAS. Terras Indígenas em Manicoré. Terra Indígena Lago dos Remédios. Aldeia Parirá.

 
 
 
 


O filme foi feito para reivindicar o andamento do processo de homologação da Terra Indígena Lago dos Remédios. As gravações foram feitas na Aldeia Parirá. O deslocamento de Manicoré até a Aldeia Parirá foi pago pelos indígenas que vivem na aldeia. O deslocamento de Manaus até Manicoré foi pago graças a mobilização de indígenas Mura, Munduruku e Kayapó da Aldeia Patakuá, A Aldeia Patakuá, em Manicoré, Rio Madeira, é habitada por Kayapó. Isso é tão bonito, singular, que merece nota especial.
Tive que mudar a edição no último instante. As gravações na Aldeia Parirá foram feitas na semana anterior, ainda no mês de fevereiro. Porém, enquanto estava terminando de editar o filme recebi a notícia do assassinado de Maria Carvalho Barreto, uma bela e sensível mulher que havia participado das duas reuniões feitas na Aldeia Patakuá, levando seu filho, um bebê de 18 meses, que viajou no meu colo no dia anterior ao assassinato. Estou tomando forças para editar um material que trate objetivamente do que considero importante tratarmos sobre o crime para a transformação da realidade social, econômica e política em Manicoré. A violência na cidade não é um fato isolado. A prática de crimes hediondos é frequente e serve para constranger a população. Essa realidade da violência é governada por bandidos e precisamos mudar essa realidade. Não é suportável viver em Manicoré sob aquelas condições.
Assim, este filme registra brevemente o assassinato, e tem por objetivo defender as Terras Indígenas em Manicoré, o direito indígena sobre suas terras.
Jakeline De Souza.
Manaus, 29.03.2014.

segunda-feira, 24 de março de 2014

Museu de Território da Amazônia e a propriedade das populações sobre as instituições de pesquisa, ensino e extensão.


1.    Apresentação

Esta proposta inicial de trabalho foi apresentada ao curador do Museu da Amazônia Prof. Ennio Candotti em 23 dezembro de 2013, e foi pensada para ser elaborada mais detalhadamente enquanto plano de ação para o Museu da Amazônia, pois implica no enraizamento do projeto nas instâncias mais concretas do cotidiano das comunidades parceiras para sua realização. Por não ter sido considerada viável, naquele momento pelo curador do MUSA, transformo a proposta em um debate que considero inadiável para o sucesso das ações institucionais nos tempos contemporâneos, e trato a proposta como um modelo reflexivo para as novas condições sociais que se impõem no cotidiano das instituições de ensino, pesquisa e extensão no Brasil.

 


A proposta apresentada online para o Museu da Amazônia, mais especialmente no Projeto Conceitual do Museu da Amazônia publicado no sítio do MUSA, “Notas sobre o Museu da Amazônia” (Ennio Candotti, Laurianne Franco e Mariana Ferraz), apresenta em seus argumentos o projeto do MUSA em diálogo com paradigmas contemporâneos emergentes que participam da noção de Museu de Território, e propõem a inserção das instituições públicas no cotidiano das populações, e vice-versa, o que evidencia que os interesses das populações são, hoje, cada vez mais determinantes para as ações institucionais em suas dimensões mais cotidianas.
Os novos contextos sociológicos, emergentes dos movimentos sociais contemporâneos, ininterruptamente tem pressionado as administrações públicas no Brasil e no mundo para cederem espaço à presença e participação das populações nas gestões de projetos e ações institucionais, cobrando cada vez mais a aproximação das instituições no cotidiano da vida social. É a presença destes novos contextos que apresento como justificativa para a elaboração e identificação de projetos que apresentem estratégias eficazes, a partir das quais a presença das instituições nos diferentes grupos sociais, mais especialmente aqui, dos grupos sociais amazônicos, define a continuidade das instituições públicas brasileiras, mais especialmente aqui as instituições voltadas à pesquisa e ao conhecimento sobre a Amazônia.
É nesse sentido, que aponto para o MUSA esta proposta, ou seja, a partir da necessidade contemporânea de respondermos institucionalmente às demandas sociais emergentes. Trata-se, portanto, de um esforço por indicar caminho para diálogos entre as populações e as instituições públicas, leis, projetos e ações institucionais, o que tem por propósito fundamental o fortalecimento das parcerias entre instituições e grupos sociais.
Esta proposta volta-se, portanto, para um projeto institucional que assume o diálogo com as demandas sociais emergentes como fundamental para a continuidade das instituições públicas, hoje, no Brasil, fundamento principal desta proposta de ação a ser desenvolvida pelo Museu da Amazônia. Para tanto, faço emergir as interdependências entre produção de conhecimento científico e produção de conhecimento tradicional como partes indissociáveis das redes de relações que sustentam os espaços onde o MUSA, enquanto Museu de Território, pretende se estabelecer.
Dessas interdependências visualizamos a orientação dessa proposta de um Museu de Território da Amazônia, em sugestões para ações e parcerias a partir da emergência de estratégias que respondam às necessidades e interesses das populações, amazônicas e brasileiras, sobre seus territórios, e simultaneamente responda às necessidades e interesses do MUSA enquanto projeto vinculado ao Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia.
Ao final, apresento a orientação política que determina as condições para a realização da proposta, ou seja, as implicações dos interesses dos grupos sociais amazônicos diversos enquanto resposta do MUSA e do INPA às expectativas de diálogo entre as inteligências científicas e as inteligências tradicionais e locais.

 
2.    Uma Rede de Museus do Território da Amazônia

Conforme está apresentado no “Projeto Conceitual do MUSA”, disponível online no sítio do museu, elaborar um plano de trabalho para o Museu da Amazônia implica em compreender o que é um Museu de Território. E, coerente com a realidade amazônica, o projeto conceitual não só indica que o MUSA é um Museu de Território[i], mas também que abrange a incursão do museu nos espaços amazônicos a partir de uma "Rede de Museus”.
A proposta tem, portanto, como eixo central a noção de um Museu de Território da Amazônia, o que participa de uma noção atual de museu “descentralizado e polinucleado, que salvaguarde patrimonial e desenvolvimento sustentado local” (Daniel Calado Café, 2007[ii]); que fundamenta outros projetos de museus de território no Brasil e no Mundo, como é o caso do Museu de Favela, MUF, cujo acervo se encontra a céu aberto, entre as casas e becos estreitos das favelas e os horizontes abertos para além mar das praias do Rio de Janeiro, o que pode ser reconhecido em percursos distribuídos nas comunidades de Pavão, Pavãozinho e Canta Galo na cidade do Rio de Janeiro, conforme apresenta Camila Moraes (UNIRIO, 2010); e pode ser visto no vídeo: http://www.youtube.com/watch?v=LHv1gLbdeMw.
Assim sendo, pensar uma "Rede de Museus" que compreenda um Museu de Território da Amazônia é um projeto ambicioso e necessário, desde que responda aos interesses dos grupos sociais da região, e, simultaneamente, responda aos interesses do MUSA, considerando que essa busca por respostas simultâneas é verificável nas diferentes propostas de Museu de Território, que se multiplicam em nosso país e no exterior. Portanto, uma "Rede de Museus" que componha um Museu de Território da Amazônia está implicada em ações que respondam aos interesses dos grupos sociais que vivem na Amazônia, o que significa assumir institucionalmente a descentralização de ações a partir do diálogo permanente com as referências locais para cada ponto de uma rede de um Museu de Território.
Entendo que na medida em que as inteligências, interesses e sensibilidades das populações que vivem na Amazônia sejam reconhecidas e estabeleçam relações de reciprocidade numa "Rede de Museus", estamos contribuindo para o fortalecimento dos grupos locais na difusão de conhecimentos sobre a Amazônia e seus povos, no estimulo à produção alternativas viáveis que promovam economias sustentáveis e o fortalecimento das comunidades e grupos sociais associados à rede na participação das políticas públicas mais abrangentes para um Museu da Amazônia.
Em outras palavras, uma Rede de Museus no Território da Amazônia apresenta-se como espaço institucional capaz de abrigar referências fundamentais para a compreensão do macrossistema social amazônico, assim como, para a compreensão dos microssistemas presentes na trama das fibras de palha que compõem os cestos indígenas; na trama das trilhas escolhidas pelas/os caboclas/os, caminhos para a identificação, beneficiamento, cultivo e extração sustentável de recursos da floresta; assim como, nos interesses químicos sobre as partículas anestésicas e microscópicas da saliva do simulídeo transmissor de filárias responsáveis por epidemias ainda presentes na região.
Assim sendo, a noção de Museu de Território da Amazônia apresenta-se capaz de aproveitar a implicação das ciências físicas e naturais enquanto produtoras de relações sociais, implicação esta, comumente tomada como fator de prejuízo para os interesses das pesquisas, e aqui apresentada, pelo contrário, como fonte de estratégias capazes de potencializar resultados em pesquisas. Em outras palavras, hoje, precisamos fazer emergir da dependência das instituições voltadas às pesquisas em relação às populações, que habitam os espaços geográficos e ambientais que sediam as investigações, a continuidade dessas instituições, como é o caso do INPA. Esta questão indica, portanto, que, a garantia da vida institucional aparece hoje proporcional à capacidade das instituições de pesquisa estabelecerem parcerias com as populações que vivem nos espaços em que são desenvolvidas as pesquisas.
 

3.    Amazônia dos Povos

O acesso à Amazônia a partir de um Museu de Território da Amazônia, estabelecido em uma Rede de Museus, conforme proposto, aparece como parte de um processo de territorialização, geográfica e institucional, que coloca em evidência o mapeamento sócio ambiental. O mapeamento sócio ambiental possibilita não só a visualização dos diálogos das pesquisas com as populações numa produção de conhecimento em parceria, mas também indica caminhos para parcerias entre os grupos sociais diretamente envolvidos no projeto, assim como, o acesso da população amazônida em geral a quem é a Amazônia Brasileira, e quais as pesquisas desenvolvidas junto aos diversos pontos da Rede de Museus, o que envolvem campos de estudos desde a arqueologia, às ciências da saúde, aos estudos de espécies e ecossistemas amazônicos, às referências sociológicas mais abrangentes, e aos modos específicos de vida e organização social local, o que pode abranger as diferentes línguas, danças, artesanato, cosmologias, estratégias econômicas e políticas específicas das populações que vivem na região. Evidenciamos, assim, a visualização geográfica das comunidades-sede nos diferentes pontos da rede do Museu de Território enquanto espaços físicos referenciais para as pesquisas em diálogo pelos interiores amazônicos.
Se, por um lado, a ênfase está em visualizar a Rede de Museus em comunidades-sede; por outro, enfatizamos a presença da comunidade científica como parte da população amazônida, e propomos o reconhecimento da instituição de pesquisa através dos grupos humanos aos quais a Amazônia pertence, quer sejam estes grupos formados por indígenas, ribeirinhos, citadinos, seringueiros, quilombolas, castanheiros, e/ou cientistas. Portanto, um Museu de Território da Amazônia tem como eixo central a relação entre as acepções próprias às ciências humanas e sociais e às ciências físicas e biológicas como condição transdisciplinar de sua proposta conceitual, o que define a orientação deste projeto.
O processo de territorialização , geográfica e institucional, contemporânea[1] dos povos nos espaços de um Museu de Território, por uma Amazônia dos Povos, significa o mapeamento e identificação dos recursos naturais no território para a realização de atividades, palestras, pesquisas, rituais, publicações, exposições e eventos que exibam a relação entre “gente e natureza” (Mito Tukano, Gentil, 2000):
“o Musa deverá criar condições de observação ‘in situ’, de imersão, em áreas de floresta.” (Projeto conceitual do Musa).
Assim sendo, uma oficina de cestos indígenas, ou uma pesquisa sobre o ecossistema de várzea, devem contar com o mapeamento das relações sócio ambientais implicadas nos processos de produção de conhecimento; nos espaços sociais, políticos, econômicos, simbólicos, e/ou rituais, que competem a cada parte.
Esse projeto apresenta, portanto, a relação entre o espaço territorial e as populações que o habitam desde suas referências mais remotas; e de outro parte, propõe a emergência contemporânea da produção científica brasileira na Amazônia, do conhecimento sobre florestas, redes fluviais e ecossistemas diversos, desde o sentido de sua relação em espaços sociais locais. Essas diferentes dimensões da relação entre a Amazônia e os Povos aos quais a floresta pertence pretende compreender as diferentes esferas do processo de territorialização dos espaços físicos amazônicos, contribuindo para a emergência de novas possibilidades institucionais e de vida social, um modelo de produção de conhecimentos e sensibilidades capaz de integrar os diferentes campos dos saberes humanos e suas respectivas práticas.
Assim sendo, esta proposta necessariamente depende de um enraizamento também da comunidade científica enquanto produtora de conhecimento amazônico. Conjugar conhecimentos e sensibilidades de especialistas de diferentes campos de pesquisa e conhecimentos tradicionais apresenta cientistas que desenvolvem pesquisas na Amazônia enquanto grupos sociais amazônicos (Latour e Woolgar, “Vida de Laboratório”, 1997), e legitima a tradição científica na Amazônia a partir da ênfase de sua relação com as populações que tradicionalmente ocupam a Amazônia. Neste sentido, a perspectiva antropológica pode contribuir para compreendermos que “mateiro, ribeirinho, indígena e cientista”, somos parte de uma diversidade de grupos sociais que têm como eixo central a vida na floresta amazônica, e é essa identidade compartilhada que nos impulsiona à conjugação cotidiana de nossas inteligências e interesses.


4.    Definição da Rede de Museus. Editais de convocação e produção continuada.

 
A escolha das comunidades-sede deve ser feita a partir da identificação das áreas de abrangência das diversidades regionais, e sub-regionais, da Amazônia, considerando qualidades e quantidades populacionais e os interesses de pesquisa do INPA, o que deve servir para a definição dos termos de editais de convocação para a apresentação dos interesses dos grupos locais em participar do projeto.
Assim sendo, os pontos-sede emergirão de comunidades e grupos sociais já existentes. As comunidades que sediam os pontos referenciais de uma Rede de Museu de Território da Amazônia, devem integrar espaços de pesquisa, ensino e extensão em conexões simultâneas entre os diversos pontos da Rede de Museus, promovendo a produção conjunta de conhecimento e as parcerias entre regiões e sub-regiões amazônidas.
As parcerias já estabelecidas entre o INPA, o MUSA e a população devem ser consideradas em sua continuidade como parte do projeto. E evidente neste projeto de museu que toda a produção de conhecimento resultante das atividades desenvolvidas pelo Museu de Território da Amazônia implicará na salvaguarda das propriedades intelectuais das populações tradicionais e científicas.

 

Consideração final: contextos sociológicos contemporâneos

Esta proposta surge, por um lado, como parte de minha experiência como pesquisadora do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia; por outro lado, como parte de minha experiência nestes últimos três anos nos movimentos sociais, no Brasil e no mundo.
Estes movimentos sociais passam a fazer parte do cotidiano das instituições na busca por respostas e diálogos com as queixas emergentes das populações, mais especialmente, a partir do trabalho desenvolvido por profissionais que dedicam seus esforços para produzir alternativas viáveis que respondam às situações de conflito presentes na insatisfação apresentada pela população brasileira e mundial durante as mobilizações. É por considerar inadiável nosso mergulho institucional a esses novos contextos sociológicos que apresento minha posição enquanto pesquisadora voltada ao estudo das relações sociais.
A presença dos movimentos sociais reclama direitos em situações econômicas e políticas emergentes, aparece como resultante da distância entre os modelos institucionais e a realidade social cotidiana da população brasileira. Meu esforço em acompanhar os movimentos sociais está voltado à produção de alternativas viáveis para responder às exigências sociais da população brasileira, neste projeto, ao acesso à estrutura, organização e ação das instituições de pesquisa, ensino e extensão no país, enquanto parceiras na produção de conhecimento.
Essas ocupações dos espaços públicos emergiram no palco das negociações políticas internacionais em 2011, e reivindicam mudança no sistema econômico a partir da orientação política dessas relações econômicas, o que implica numa participação direta da população nas administrações de seus respectivos países, resultando em uma série de manifestações em milhares de cidades no mundo. Tive a oportunidade de participar, a partir da Marcha Xingu Vivo, das Marchas Interacionais para Dignidade, que envolveu países como Turquia, Egito, França, Espanha, Grécia. 
A Marcha Xingu Vivo fez a abertura, em 01 de janeiro de 2012, do calendário das Marchas para a Dignidade. A Marcha Xingu Vivo percorreu quatro regiões do país, dez estados em quinze cidades brasileiras/os onde estavam estabelecidas as ocupações. A partir dessas ocupações dos espaços públicos, conhecidas internacionalmente como #Acampada, #Occupy,  ou Indignados da Espanha, foram estabelecidas conexões entre os diversos movimentos sociais no Brasil e no mundo. Nesse contexto, a Marcha Xingu Vivo apresenta-se como importante mediadora entre os movimentos sociais brasileiros em todas as regiões do país, e ainda, torna-se importante mediadora entre o Movimento Indígena e as ocupações públicas nas cidades brasileiras, #Ocupa Brasil. Ambos os movimentos, reunidos, ganham significativa importância pois além de compreendem toda a extensão do território nacional, o Movimento Indígena abrange, para além do Brasil, as reivindicações nas Américas do Sul, Central e do Norte, e as ocupações abrangem, para além do Brasil, todos os continentes do planeta.
A Marcha Xingu Vivo como parte das Marchas pela/para a Dignidade, que neste mês de março de 2014 marca presença em todo o território espanhol, foram realizadas por grupos de pessoas com o propósito comum de acelerar o processo de descentralização dos poderes econômicos no mundo. A principal estratégia foi o fortalecimento de movimentos sociais locais, de categorias específicas, e especialmente os movimentos relacionados à dignidade dos povos e ao direito dos povos sobre sua própria terra. Especificamente a Marcha Xingu Vivo reivindica as ações do empreendimento "Usina Hidrelétrica Belo Monte", apresentando uma proposta de iniciativa popular para a mudança na lei que regula a convocação de Plebiscitos Populares e Referendos, dando direito à população de apresentar as propostas de plebiscitos e referendos a serem votadas pela própria população.
A mudança na lei é apresentada como estratégia para que a população das cidades diretamente atingidas pela construção da usina, assim como, a população do estado do Pará e a população brasileira, decidam através de Plebiscito Popular se querem ou não, a existência daquela usina hidrelétrica na Bacia Hidrográfica do Rio Xingu, nas terras amazônidas e brasileiras.
Por um lado, esses movimentos passam a fazer parte das reivindicações sociais cotidianas e locais em diversas cidades no país, como Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte, Porto Alegre, Manaus, Salvador; por outro lado, passam a reunir a população brasileira em torno de reivindicações em comum, como é o caso dos movimentos relacionados às ações que envolvem o evento "Copa do Mundo", assim como, o freio no aumento das passagens de ônibus em todas as capitais brasileiras.
As proporções que os movimentos sociais ganham hoje através das redes online não é possível precisar, uma vez que diariamente o número de pessoas em conexão online aumenta, assim como o número de grupos de debate, eventos, comunidades e propostas de interação online. Nesse sentido, essa proposta pretende ir adiante e somar forças para o diálogo com as populações amazônidas, de modo a contribuir para necessária trama de relações entre Povos da Amazônia e instituições de pesquisa, ensino e extensão na região, pois entendo que é a abertura de espaço para diálogo o caminho capaz de tornar satisfatória nossas respostas às expectativas sociais sobre as instituições brasileiras.
Assim sendo, se, enquanto pesquisadoras/es das instituições de ensino, pesquisa e extensão no Brasil, não podemos responder às exigências de uma reestruturação política no país em nossos espaços de pesquisas, conforme hoje reclama a população brasileira, podemos e devemos criar espaços para a parceira entre população e as instituições públicas, ganhando desses novos contextos as forças necessárias para a continuidade de nossos trabalhos. É neste sentido que apresento a proposta de Museu de Território da Amazônia enquanto caminho capaz de colocar em evidência a relação entre pesquisadoras/es e a população enquanto parceiras/os na produção de conhecimento.

 
Agradeço o apoio, a motivação e o sentido desse trabalho à equipe do Laboratório de Entoepidemiologia e Etnoecologia do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia.
Parece que herdamos um sentimento de Humanidade Yanomami durante nossas incursões nas Terras Yanomami. Digo isso, pois é o que penso justificar o modo diferenciado como a equipe, o grupo, faz presente a compartilha e o pertencimento nas relações cotidianas. Quero dizer que talvez sejamos, um pouco, caçadoras e caçadores Yanomami, e nossa caça serve para alimentar o grupo, jamais a nós mesmas/os. É da caça capturada por nossas parceiras e parceiros que nos alimentamos.

Dezembro de 2004. Serra do Parima, Terras Yanomami. União do Brasil com a Venezuela.
Ao Seu Orlando, ao Dr. Hugo e sua companheira Léa, à MSc. Raquel, ao Dr. Ulisses, ao sempre presente Victor, e às novas parcerias, Henrique e Sarah.


[1] Apresento a relação entre este projeto e a proposta apresentada, pela “Nova Cartografia Social da Amazônia” (“Território e Etnicidade na Amazônia”, Alfredo Wagner Berno de Almeida, 2008, PPGAS/UFAM), que trata de um mapeamento etnográfico de movimentos e grupos sociais emergentes nos contextos amazônicos, mapeamento a partir do qual é possível visualizar uma Rede de Museus que abranja pesquisa, arte, turismo, artesanato, economias locais, conhecimentos tradicionais, cosmologias, línguas, entre outras fontes de produção de conhecimento e vida social amazônica. Vale ressaltar que o projeto “Nova Cartografia Social da Amazônia” não só pode ser tomado como referência para a organização de uma Rede de Museus que reúna comunidades, associações e grupos sociais amazônicos, como também pode ser uma parceria capaz de acelerar a identificação de uma rede de museus. Enfim, uma proposta capaz de mediar diálogos para as diversidades humanas e ambientais na Amazônia.




[i]A palavra território, do latim, territorium, abrange sentido material enquanto terra delimitada, e sentido simbólico ao indicar a relação entre quem usufrui do território, apropriação, e quem está alijado de seu usufruto (Haesbaert, 1997). O emprego contemporâneo do termo “abrange noções derivadas, perpassando diferentes domínios do conhecimento, quais sejam: geografia, economia, antropologia e política.” (“Território e Etnicidade na Amazônia”, Alfredo Wagner Berno de Almeida, 2008, PPGAS/UFAM). As noções de território e territorialização participam da definição conceitual do projeto “Nova Cartografia Social da Amazônia”, coordenado pelo último autor citado.
 
[ii] Daniel Calado Café, em sua dissertação “Patrimônio, identidade e memória”, mestrado em Museologia na Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias, Lisboa, 2007, apresenta o Museu do Território de Alcanena como parte de estratégias para “preservação, salvaguarda e divulgação das tradições e do patrimônio”, reação aos problemas sociais e econômicos resultado de problemas ambientaisprovocados pela indústria do curtume, ao longo de décadas. Cabe fazer lembrar que o Museu do Territorio de Alcanena também abriga um “o Carsoscópio”, que é um “centro de interpretação integrado na rede de projetos de ciência viva, elegendo como assunto central o patrimônio natural local”. Ver também “Turismo e Museu de Favela“ que trata sobre o Museu de Favela, um Museu de Território queintegra as comunidades do Pavão, Pavãozinho e Cantagalo na cidade do Rio de Janeiro, Brasil.