sábado, 28 de setembro de 2013

Professoras/es dão aulas de POLÍTICA na Câmara Municipal, na cidade do Rio de Janeiro.

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DA PERSPECTIVA DOS OLHOS DA REVOLUÇÃO: Professoras/es dão aulas de POLÍTICA na Câmara Municipal, na cidade do Rio de Janeiro.

 Políticos inventaram um plano para os salários das/os professoras/es. Mas as/os professoras/es não aceitam essa proposta. Estimam que 93% da classe não será beneficiada! E NÃO QUEREM ESSE PLANO. Mas, os políticos ainda não aprenderam, não entenderam, que não existe mais espaço para decisões arbitrárias, decisões contrárias aos interesses da população. Então, as/os professoras/es estão dando aulas aos políticos sobre DIGNIDADE e RESPEITO na Câmara da cidade do Rio de Janerio.
 Também a população brasileira aproveita para observar como fazer, o quê fazer, para reivindicar seu DIREITO DE DECIDIR, DE GOVERNAR as leis, os projetos, as deliberações da administração e legislação públicas de NOSSO PAÍS, municípios, estados.          


Abra-cadabra: Assim se faz a Democracia Direta.

Digo isso para os que tinham dificuldade em compreender como a Democracia Direta se estabelece, qual caminho seguir, que proposta apresentar, como se fosse algo a ser decidido individualmente sobre o destino coletivo.
Agora digo: acompanhem os movimentos das/os professoras/es, essas pessoas estão dizendo aos políticos o que querem, estão exigindo o direito de decidir. Assim fica mais fácil compreender os caminhos que a Democracia Direta segue. Suponho que deve estar claro que o novo sistema econômico e político emerge dos movimentos sociais, que gradativamente se organizam e ampliam seu poder de ação, enraizando nas bases.
É bom lembrar que as/os professoras/es em especial, são apoiadas/os em todo o país. A defesa da escola é unanimidade. São nossas crianças. A ESCOLA ESTÁ ENTRE QUASE TODOS OS GRUPOS SOCIAIS NO PAÍS. QUASE TODA A POPULAÇÃO BRASILEIRA ESTÁ EM CONTATO DIRETO COM AS ESCOLAS, COM SISTEMA DE EDUCAÇÃO NO PAÍS. Esta classe pode e deve veicular muitas das conexões entre movimentos sociais como referência para toda a população.

O POVO BRASILERIO QUER EDUCAÇÃO DE QUALIDADE

Essa classe social pode e deve tomar a frente da educação para a política no país inteiro. Educar é dar exemplo. Essa ideia repetimos todos os dias: "educar é dar exemplo". Quero dizer que a melhor aula para o país hoje, é AULA DE DIGNIDADE. Estamos precisando, a Humanidade inteira, de referências para RESPEITO E DIGNIDADE. Ensinar é assumir essa responsabilidade. Será que existe algo singular na identidade de professoras e professores, algo que inquieta, que perturba no cotidiano quando não se vê coerência entre o que se fala e o que se diz?
Há quem saíba queé impossível não pensar na força que tem o futuro quando centenas e até milhares de crianças, adolescentes e principiantes nos observam, comem e bebem de nossas posições, reflexões, propostas, entendimentos.

Essa perspectiva é um pouco otimista? Ou, talvez estejamos em condições de melhorar muito, muitas coisas. Se esta possibilidade existe, então seria ignorância ignorá-la?

No blog da Marcha Xingu Vivo: http://marchaxinguvivo.blogspot.com.br/2013/09/da-perspectiva-dos-olhos-da-revolucao.html#!/2013/09/da-perspectiva-dos-olhos-da-revolucao.html





quinta-feira, 26 de setembro de 2013

travessia desexos e gêneros

travessia de sexos e gêneros

atravessam a ideia que temos sobre gêneros, até sua referência mais radical: a forma dos sexos.
é claro que elas/eles têm muito, muito, a nos ensinar sobre liberdade, sobre autonomia e sobre PODER DE ESCOLHA mais que possível aki, entre nós, conectadas/os.
 a base firme que sustenta a superação do que nos tortura nas relações socias ("um jeito de distribuir a grana, de exercer a política, de pregar dogmas religiosos") está nas margens. nossos "centros de poder" estão sustentados pela violência, que sustentas guerras e exploração, pela opressão que a violência física gera, esses "centros de poder" estão com os pés fincados na falta de dignidade. é possível compreender isso? os "centros de poder", do "mundo hegemônico", estão podres. digo no sentido que dizem os Yanomami sobre o que é imprestável para a boca como a laranja podre; para a floresta, como a morte do veneno na água. é isso que entendi, por analogia, o sentido que os Yanomami empregaram para "hoximi mahi", mahi significa muito. essa expressão se usa para definir também alguém sovina: todo sovina é hoximi, digo hoximi-social, quer dizer que não prestam, são podres, para aquele jeito Yanomami de vida econômica, política, social, fundado na compartilha! vamos lembrar a regra Yanomami sobre um caçador não poder comer de sua própria caça. minha caça não serve para me alimentar, diz o caçador Yanomami. enquanto carrega a caça que alimentará outro caçador.
 voltando para as travestis e transexuais, num diálogo sobre os modos de vida indígenas, quero dizer que incorporar a forma e a voz dessas pessoas é um signo do poder inabalável que temos de superação, por que pouca gente suporta o que essas/esses trans, pan, livres-sexuais, suportaram. a violência contidiana, o risco do assassinato. essas da fota são da Uganda, e ainda hoje suportam, isso é falar sobre revolução. e o Pajé Avelino disse, tenho isso filmado: "um novo mundo onde as mulheres vão nascer em corpos de homens e os homens em corpos de mulheres", a anunciação de um novo mundo na voz do Pajé, e isso é uma interpretação sobre as condições da tranformação social que vivemos. não vamos poupar falar sobre a importância da inteligência do Pajé, por que isso seria negligência: aquele Pajé que etnografou, no sentido do registro em análise, nosso modo de vida desde as referências dos seus ancestrais. assim sendo, só poderia dizer sobre nós o que não conseguimos. e muitos tem muito a dizer, vamos ouvir?

Link de onde tirei a imagem https://www.facebook.com/photo.php?fbid=403073779818891&set=a.100331683426437.367.100003488160914&type=1&theater


segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Museu Nacional: etnografia como estratégia nativa.


Este é um dos textos que preparei para apresentar na aula pública, que não realizei, para o concurso do Museu Nacional, edital 312, que aconteceu na semana passada, 16-20 de setembro.
É certo que mencionei os Apinajé, onde deveria mencionar Gavião, num comentário entre parênteses citando a presença de Roberto DaMatta, quando falava da pesquisa de Laraia com os Suruí. É certo que não respondi uma das duas questões, pois não havia estudado cultura popular na America, o ponto para cultura popular não tinha uma limitação geográfica, e eu, inexperiente, não contava com a possibilidade de um recorte específico. Certo também é que concorria com duas pessoas que fizeram pesquisas na Colômbia e no Perú. Se estudar para o concurso, no meu caso foi insuficiente, também minhas pesquisas não ajudaram com esse elemento supresa.
Tendo tantas faltas como certas, fui reprovada na primeira prova e conversarei sobre essa questão com o presidente da banca de avaliação no próximo mês. O que será uma satisfação para mim.
Vamos aproveitar, então, publico os textos que escrevi. Estive envolvida com esses textos no último mês, publicar, ainda que de modo tão despretencioso, num blog a ser divulgado entre amigas/os, isso nos faz ganhar fôlego. Minha trajetória continua, e quero fazer o que gosto num espaço com plenas condições para tanto. Continuemos! A vida urge.
Bem, os pontos foram tornando-se cada vez mais interessantes, na medida em que buscava reflexões para cada um deles a partir da ideia de que a antropologia é relação social, política, econômica. Essa orientação para a superação da fronteira sujeito/objeto tem me escolhido para sentir e pensar. Quero dizer que não consigo pensar em antropologia ignorando esse desejo de objetificar nossa produção intelectual a partir de nossos próprios termos, por uma antropologia simétrica, para além de hierarquias e cisões disciplinares.
Tenho me dedicado a isso, afinal, a antropologia está implicada politica e economicamente nas pesquisas que desenvolvemos, como um conjunto de regras de um jogo específico que mistura interesses de alguns grupos sociais que se entendem exclusivos e excludentes. Um jogo de poder que precisa ser pensado compreendido, especialmente a partir da contribuição dos grupos e pessoas com as quais trabalhos. Tomo como modelo o que desenvolvi em minha própria tese, exigência das/os Pajés, Yalorixás e Babalorixás com as/os quais trabalhei.
Publico os textos para amigas/os. A ideia dos textos está pronta, mas estou tomando fôlego, de verdade! É claro que preciso incluir alguns debates de autores específicos como o Bruno Latour e sua "Vida de Laboratório", uma etnografia da vida de pesquisadores, cientistas, em seus laboratórios. No mínimo interessante, para mim é inspirador. Outros autores também devem ser citados. Bem, vou publicando aos poucos e com a pretensão de reunir um conjunto razoável de textos que me inspire à continuidade, aberta às críticas e aos debates. 

Os pontos de prova são minha fonte de inspiração. Escrevi breves textos para os seguintes assuntos: 

1.  Teoria antropológica. 
2.  Parentesco, organização social e política. 
3.  Rituais e simbolismo. 
4.  Antropologia das instituições de conservação cultural.
5. História da Antropologia no Brasil.
6. Cultura, território e recursos ambientais.  
7. Etnicidade e movimentos étnicos.
8. Mudanças e transformações socioculturais.
9. Coleções, colecionadores e artes étnicas.
10. Patrimônio material e imaterial.
11. Etnologia indígena.
12. Estudos afro-brasileiros.
13. Culturas populares.

Alguns assuntos se encontram e se interelacionam de modo evidente. Esses eram também os pontos da prova escrita que citei acima, foram sorteados três 8, 11 e 13; a partir deles foram elaboradas duas perguntas.

Abaixo apresento o primeiro texto, o último que escrevi. 

Ilustre comissão julgadora, prezadas/os colegas e amigas/os, é com satisfação que apresento minha proposta de reflexão a estudiosas/os do campo de pesquisas para o qual tenho dedicado minha atenção e cuidado. Campo de estudos que entendo ter neste Museu Nacional o mais importante espaço de produção de conhecimento para a antropologia em nosso país[1].
A importância do Museu Nacional hoje, a mim parece estar sustentada por dois pilares fundamentais; por um lado, do conjunto de instrumentos institucionais que reúne referências históricas que constituem o pensamento científico e disciplinar em nosso país e mundo hoje; por outro, das contribuições reflexivas, pesquisas e diálogos, contribuições fomentadas por ilustres pesquisadoras/es, as quais são fonte para orientar nossas respostas a questões emergentes, sempre, simultaneamente, contemporâneas e historicamente enraizadas.
Essa declaração sobre a importância de nosso tempo e lugar é comprometida de minha parte enquanto sujeito social. O debate que trago é um esforço por fazer pertinente a análise da produção de conhecimento em antropologia enquanto produção de relações sociais, e colocar a nós, pesquisadoras, funcionárias, curadoras, estudantes, como parte analisável da reflexão.
Proponho este debate acima de tudo, por acreditar mais no potencial das estratégias de análise da disciplina do que no jogo político pressuposto por nossas práticas teóricas, metodológicas, presentes na relação sujeito/objeto do conhecimento; que nos torna, antropólogas e “outras”, nativas nesta relação. Trata-se de uma antropologia submissa, portanto, à análise disciplinar, ou seja, nos mesmos termos que usamos para analisar a vida social em grupos diversos, analisemos, pois, as relações sociais que fazem existir a disciplina Antropologia, assim como, analisemos as relações sociais que a disciplina torna existentes. Quero dizer: analisemos a antropologia enquanto produção de relações sociais, políticas, econômicas, estéticas, entre outras dimensões da vida social eleitas para recorte de nossas análises sobre grupos sociais diversos, em diversos lugares no mundo, e, especialmente, o Museu Nacional enquanto espaço de produção de relações sociais, empregando nessa análise as referências que utilizamos para apresentar diferentes modos de vida social. Pensemos o museu a partir de uma orientação própria à análise etnográfica. 
Para ilustrar, digo que se trata de uma cobra mordendo o próprio rabo, uma antropofagia em primeiro grau, ou seja, nos colocamos para sermos devorados por nós mesmas, já que nunca poderemos controlar o devoramento de um “outro” sobre nós. Quero dizer que, se a antropologia em suas origens coloniais tinha como missão devorar um “outro” a ser dominado, mais objetivamente, por economias e políticas das coroas, hoje a antropologia apreende de si a condição de objeto da análise do “outro”, assim como, a condição de objeto de análise etnológica/antropológica.
Esta orientação mostrou-se um caminho fértil para o desdobramento das temáticas apresentadas no quadro de temas deste edital, pois uma antropologia antropofágica pensa-se como produção de relações sociais, o que pressupõe, entre outras coisas, a nossa participação - antropólogas/os, programas de pós-graduação, disciplinas, pesquisas, museus, e todos os espaços de produção de conhecimento disciplinar - enquanto partes das novas relações sociais que emergem dessa mistura de tradições de antropólogas e nativas, entendendo a categoria nativa, no sentido empregado pelo professor Eduardo Viveiros de Castro em seu texto “O nativo relativo”.
A partir de tal estratégia de análise da produção de conhecimento temos, por um lado, nossa participação nas transformações da vida social dos grupos com os quais vivemos; por outro, as estratégias sociais de produção de conhecimento destes grupos enquanto parte da orientação epistemológica, teórica e metodológica de nossa disciplina. É neste sentido, que apresento esta proposta de debate, e inspirada numa etnografia da “vida de laboratório”, sugiro pensarmos etnograficamente nossa orientação para as relações sociais a partir do espaço deste Museu Nacional enquanto parte de um conjunto de relações sociais e sociológicas mais amplas, a fim de desdobrarmos sentidos que respondam às transformações contemporâneas que se fazem fundamentais para a continuidade dos museus.


Coleções, colecionadores e artes étnicas da antropologia e das/os antropólogas/os

O Museu Nacional, assim como a antropologia, vem de uma história enraizada na estrutura e nos interesses dos estados nacionais, desde os reinos; ainda que o sentimento que move o impulso humano de cuidar e significar objetos e lugares tem suas referências disciplinares mais remotas na Grécia, na Antiguidade. Na mitologia grega Museu é poeta e músico associado ao poeta Orfeu.
Os museus modernos têm suas origens no final do séc. XVII. O Museu de Ashmolean, http://www.ashmolean.org/ , na cidade de Oxford, Inglaterra, criado por Ashmole, membro fundador da Real Sociedade de Londres, é apontado como o primeiro museu e  surge após quase dois séculos após o encontro entre povos europeus e ameríndios.
No período posterior a II Guerra Mundial, os países vencedores criaram o International Council of Museus (ICOM, 2001), em 1946, um ano após o fim da guerra, quando foram também criadas a UNESCO e a ONU, como suas irmãs mais velhas é filho da guerra entre estados nacionais, e está voltado para a continuidade de relações internacionais estabelecidas desde aquele momento e a partir daqueles conflitos. O ICOM apresenta os museus como “instituições permanentes, sem fins lucrativos, a serviço da sociedade e do desenvolvimento, abertas ao público e que adquirem, conservam, investigam, difundem e expõem os testemunhos materiais do homem e de seu entorno para educação e deleite da sociedade”.
No Brasil, o Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, IPHAN, precedido pela Inspetoria de Monumentos Nacionais e pelo Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, respectivamente de 1933 e 1937, é o setor governamental responsável, a partir de 1990, por uma definição voltada às noções de democracia, patrimônio e educação, caracterizada pelo esforço por corresponder aos termos do Estado Brasileiro enquanto eixo centralizador das expectativas para a continuidade dos museus.
Em 1989, no texto “Os museus de história natural e construção do indigenismo” pelo professor Antonio Carlos Souza Lima, apresenta essa relação ancestral das coleções e do Museu nacional enquanto parte de um projeto de produção de um capital científico através do acervo reunido, o que caracterizou os museus de história natural, que investiam num modelo de ciência nacional, nacionalista, a partir do exercício de controle sobre os objetos recolhidos por viajantes.
O Instituto Brasileiro de Museus, que também responde a expectativas institucionais, é criado recentemente, em 2009, e apresenta outra perspectiva para a definição de museus, que se refere a uma orientação voltada para a subjetividade da experiência social a partir dos museus, diz: “casas que guardam e apresentam sonhos, sentimentos, pensamentos e intuições, [...] pontes, portas, janelas que ligam, [...] conceitos e práticas em metamorfose”.
Assim sendo, o Museu Nacional apresenta em suas origens europeias, o propósito de firmar referências para história dos estados nacionais, respondendo especialmente a interesses de elites econômicas que determinaram relações de guerra e paz entre estes estados, o que é evidente na criação do Conselho Internacional de Museus após a II Guerra. Por outro lado, buscamos ultrapassar fronteiras étnicas, impulsionadas pelo sentido subjetivo da experiência humana, histórica, artística, científica e social, como podemos identificar na definição apresentada pelo Instituto Brasileiro de Museus, o que lembra sua origem ancestral-disciplinar mais remota: a poética de Orfeu da narrativa grega.
As definições apresentadas, ambas, são vozes de lugares específicos no contexto etnográfico/sociológico da história contemporânea brasileira e mundial. Essa perspectiva nos leva a entender que nossos desafios mais difíceis, nossas questões mais indissolúveis, estão em lugares sociais presentes, porém, sem visibilidade, sem voz nesse contexto etnográfico/sociológico. O interesse aqui é a identificação de vozes apresentadas como parte de um coro amplo e diversificado que, em maior ou menor medida, está entremeado pelas armadilhas antropológicas do método científico (Cardoso, 2003), neste caso, na forma de silenciamento de vozes, sendo o que marca sua composição são nossas estratégias econômicas e políticas para produção de conhecimento, o que aparece na materialidade mais cotidiana da vida social que constitui esse Museu Nacional e que é constituída por ele. 
Sendo assim, tal qual Denis Tedlock (1986) apresenta a noção de polifonia, considerando a multiplicação das vozes nas pesquisas etnográficas, apresento - a partir de uma observação geral nestes dias que estive acompanhando o cotidiano de atividades no Museu Nacional, vivendo entre as relações sociais que nos constituem enquanto grupo - uma proposta de análise a ser desdobrada num mapeamento detalhado das relações políticas, econômicas, estéticas, identitárias, científicas, enfim, relações sociais às quais este Museu Nacional pertence.
Apresento esta proposta por verificar nas etnografias reflexões e mapeamentos fundamentais para a orientação dos grupos sociais com os quais trabalhos, são diversos exemplos de contribuições da etnografia para a orientação da vida social dos povos, terras indígenas e quilombolas, como por exemplo, os trabalhos realizados por laudos antropológicos que conseguem apresentar outras epistemologias para a economia e a política sobre a terra, e com isso defender os direitos dos povos (ver Ilka Boaventura Leite, “Os quilombos no Brasil: questões conceituais e normativas.”, 2000, Cadernos de textos e debates, NUER, UFSC).
A eficiência da abordagem etnográfica na análise das relações sociais deve servir para o estudo e orientação das relações sociais para a produção de conhecimento, tão bem o quanto tem servido para as populações tradicionais neste momento contemporâneo, visto que esta proposta é uma continuidade do trabalho sobre a análise da produção de conhecimento enquanto produção de relações sociais, orientação que assumo desde o período de meu doutoramento e que resultou numa etnografia da produção de conhecimento em antropologia, na qual os sujeitos sociais com os quais realizo a pesquisa reivindicam a condição de sujeitos do conhecimento antropológico, e propõe um debate a ser apresentado a partir de relações equitativas em pesquisa. O que gera uma reorientação epistemológica da relação sujeito-objeto do conhecimento para ciências humanas e sociais.
Neste sentido, chamo a atenção para a contribuição da etnografia para um Museu Nacional compreendido enquanto espaço de produção de relações sociais, as quais convergem interesses e necessidades, o que apontará para outras vozes na orientação de ações e debates.  É possível reconhecer o eixo centralizador das instituições, e também é possível identificar o esforço realizado para ultrapassar as limitações dos modos mais tradicionais de orientação nas administrações de museus. Esta apresentação esforça-se no mesmo sentido.
Longe da pretensão de esgotar possibilidades, apresento uma visão panorâmica das vozes confluentes, silenciadas ou com poder de decisão. Apresento os tópicos abaixo apenas como exemplo mais objetivo da proposta de análise, pois se trata de um esboço rudimentar de mapeamento de algumas dimensões que consigo visualizar mais imediatamente nesse coro de vozes e que pode/deve compor uma etnografia do Museu Nacional, buscando dos acervos, seus sujeitos para contribuirem na orientação de nossos trabalhos:

1.                              a importância do Museu Nacional para nosso país, tanto em suas dimensões mais internas, quanto em suas relações internacionais;
2.                               importância deste Museu Nacional para o continente dos povos indígenas, que além do acervo e das pesquisas arqueológicas no país e no continente, as origens ancestrais indígenas da população brasileira emergem hoje como referência fundamental;
3.                              as coleções voltadas à mistura entre povos que caracterizam coleções regionais recolhidas nas diferentes regiões do país;
4.                              as coleções voltadas a migrantes de vários continentes e países do mundo; 

5.          identificação de um acervo regional da cidade do Rio de Janeiro, voltado, proporcionalmente ao contingente das populações afro-brasileiras, indígenas, entre outras, que viveram aqui desde o Brasil colonial, passando pela sede das coroas portuguesa e brasileira, até a criação da República.












[1] A importância central do Museu Nacional para a ciência no país é citada por Carla da Costa Dias na XXVI Reunião Brasileira de Antropologia, que considera como a instituição de maior prestígio em pesquisa no país no período de 1918-1951. O que também é inegável para todo o período que antecede o período da pesquisa, ou seja, desde 1818, quando acontece sua criação no Passo de Santana. 


quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Mudando o foco do Ministério da Saúde: SAÚDE, Ministério da Saúde!


Mudando o foco do Ministério da Saúde:

AS CAMPANHAS COM IMAGEM DEVEM PROMOVER OS BENEFÍCIOS DA SAÚDE!

         SAÚDE, Ministério da Saúde!

antes de falar sobre isso, quero saber se as pessoas com quem mantenho conexão suportam essa PORCARIA de fotos de gente morta, morrendo, necrosando, em carteira de cigarros.
alguém aceita isso sem se incomodar?
confesso que todas as pessoas que conheço pessoalmente, e pude observar, não gostam disso. então, me parece que essa campanha do Ministério da Saúde é uma campanha que agride, portanto, produz o contrário do que se propõe, produz mal estar, desconforto (e isso já aconteceu comigo em diversos momentos). nossas necessidades são outras!

* então, vamos reclamar:
pessoas que fumam e que não fumam não suportam a violência dessas imagens.

* e vamos sugerir:
CAMPANHAS AFIRMATIVAS  = sensibilidade e respeito.

o Ministério da Saúde deve ter como norma que riscos/DANOS do uso de cigarros venham indicados APENAS POR ESCRITO.

AS CAMPANHAS COM IMAGEM  DEVEM PROMOVER OS BENEFÍCIOS DA SAÚDE!

isso significa campanhas com imagens de pessoas nadando, praticando mergulho, velejando, escalando montanhas, respirando o ar das serras brasileiras; voando sobre praias e paisagens; praticando mergulho; atividades atraentes que parecem ainda mais atraentes quando se está com a saúde plena.
queremos falar sobre os benefícios da saúde no aparelho respiratório.  ações preventivas devem estar focadas na saúde. prevenir não deve ser pensado para tratar doença, mas para chamar as pessoas para a saúde.

e também temos outras maneiras de lidar com o tabaco, planta originária deste continente. podemos buscar alternativas. por exemplo:
*entre os Yanomami, que não usam queimar o tabaco, colocam na boca, o tabaco é identificado como importante para o equilíbrio da saúde. falo dos grupos que vivem com o pessoal do Xidea.
*também os Guarani que usam o cachimbo e não tragam. conheço algumas pessoas que usam o cachimbo sem tragar, como maneira de relaxar, silenciar um pouco, admirar a paisagem. temos que trabalhar com a ideia de saúde, somos frágeis, todxs.

Mudando o foco do Ministério da Saúde: SAÚDE, Ministério da Saúde!
publicado no facebook: https://www.facebook.com/photo.php?fbid=726435797370210&set=a.143030835710712.27161.100000113906083&type=1&theater
intervenção minha sobre a imagem, que foi baixada do facebook. o homem assina "luiz eduardo sedutor", deve ser uma piada, mas foi de onde tirei isso: https://www.facebook.com/photo.php?fbid=508678582557966&set=a.222627207829773.51019.100002474850156&type=1&theater

terça-feira, 17 de setembro de 2013

origens do mal.

conversei com um homem que foi do crime aqui no Rio. mm homem que nunca matou, foi do crime, não é mais. gostei dele, cheio de sonhos e fé, coração leve.


esse ex-traficante fez pensar nas origens do "mal". não estou falando de demônios, não estou pensando nessas coisas, estou falando do mal nas relações sociais objetivamente. quero dizer, o ato de prejudicar, matar, roubar, sabotar, tudo o que pretende prejudicar alguém e cujos motivos são tomados pela lei e pelo senso comum, compartilhado, como dano, ataque, violência, prejuízo, contra alguém ou algum grupo social. do assassinato de um trabalhador como Amarildo, ou um jornalista como Tim Lopes,  à informação errada no metrô.
é interessante pensar as origens do mal nas relações sociais, quando comecei a entender um pouco isso, a partir das conversas com aquele ex-bandido, pude também entender como o bem se estabelece. é interessante. entender as origens do mal nos leva a entender como o bem se estabelece. aqui, chamo "bem" as relações, de reciprocidade e respeito, satisfatórias. então, também estou falando de uma expectativa compartilhada de vida social para reciprocidade e respeito compartilhados. o que queremos das nossas comunidades, família, amigos, grupos de trabalho, etc. e me incluo enquanto sujeito social que, como qualquer outra pessoa, sofre o impacto de ações que prejudicam a si, ou a outras pessoas, e aos grupos aos quais pertenço.
mas, também pensei sobre o contrário, será que faz sentido? quero dizer, pensar nas origens do bem para entender como o mal se estabelece? é uma possibilidade que não me interessa. e agora? é impossível ignorar nosso poder de escolha, algumas pessoas escolhem tentar não serem vistas por trás das costas largas do mal "estabelecido".
os exemplos cotidianos são nosso mais fértil livro de reflexões e entendimento da vida social, e a vida cotidiana deve nos orientar a entender. nesse caso, quando falo "mal" digo, por exemplo, bandidos de colarinho e assassinos, nao importa. pensar as origens do mal, quero dizer: pensar o que faz, o que motiva, bandidos manter ligação, sustentar a morte e a tortura em suas próprias vidas. suspeito que seja a capacidade de produzir o mal em outra pessoa. quero dizer, fico imagindo que bandido líder é o bandido capaz de torturar, matar, qualquer pessoa, sem arrependimento, e covardemente, se for preciso defender o seu parceiro. e a vida dos que estão fora do círculo, nesse caso, vale nada.
é um lado da história, mas entre os bandidos de presídio, nem tudo é ruim assim. o fato é que as pessoas se esgotam com a violência. entre presidiários confinados existem os que não são capazes, ou que são menos capazes de atacar outras pessoas, algumas pessoas acabam daçando rápido, morrendo mesmo. entre os bandidos de colarinho branco é regra geral, não tem negócio, envolver-se com criminosos com poder público vigora duas condições: ou o bandido está dentro, ou o bandido está fora. e quem não está dentro pode servir pra proteger o crime, basta precisar. falo do que faz existir pactos entre criminosos.
entre os bandidos de colarinho branco também existe fragilidade, é claro. entre os de presídios é que alguns não querem fazer parte, ou não são capazes de fazer parte, entre bandidos de colarinho a fragilidade está em outro ponto, ninguém confia em ninguém, daí, uns acabam nas mãos dos outros. dadas as circunstâncias, é possível que os de colarinho branco acabem nas mãos dos "sem colarinho".
entre presidiários confinados até acontece coisa boa, algumas pessoas conseguem se manter distantes desse sistema, pagam caro por isso. acessei essa realidade entre presidiários que retornam à vida em liberdade, a partir dos relatos de uma das estagiárias que trabalhava no Bangu dando aulas de teatro através de um projeto de extensão da UNIRIO, que produz trabalhos que descrevem os resultados das atividades dentro do presídio e abordam também os contextos e relações.
pois é, essa deixa do conhecido de praia e ex-bandido faz pensar em como o bem se estabelece. isso é uma conversa propositada e voltada ao ativismo contemporâneo, quero dizer que dependemos de relações de confiança, tal qual os bandidos não têm, especialmente os articuladores, frequentemente de colarinho. quero dizer com isso que as pessoas que pretendem uma vida tranquila, digna, contribuindo para a vida social comum sem abusos, desrespeitos, essas pessoas devem estabelecer vínculos estáveis e recíprocos de confiança. como ativista pró democracia direta, essas questões me afetam. seria imprudente falar de um "mundo" no qual eu não me incluo. a separação entre sujeito e objeto para a produção de conhecimento deve ser esquizofrênica? talvez tenha algum traço de psicopatia social, ou algo de sádico nisso. considerando que a produção "da verdade", está em boa medida, ainda hoje, legitimada pelos espaços de produção de pesquisa; nesse caso, as categorias da psicologia são mais divertidas do que, talvez, toda a desgraça que acontece por que existem pessoas que produzem desgraça sustentadas pelos centros de legitimidade dos poderes econômicos, tal qual estão distribuídos ainda hoje.
vamos parar de produzir desgraça pra ver se ela aparece independente de nós?

sábado, 24 de agosto de 2013

nós, as redes online, somos uma mistura interessante entre a oralidade e a escrita.

a principal fonte para a autonomia do pensamento não são os livros. os livros são importantes e ajudam muito mais do que temos aproveitado, mas não são os livros que levam à autonomia de pensamento.